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Pedro Simon recorda homicídio que aconteceu em Santa Cruz e mobilizou o presidente da República

Publicado em: 21 de setembro de 2022 às 13:58 Atualizado em: 04 de março de 2024 às 09:46
  • Por
    Eduardo Elias Wachholtz
  • Fonte
    Portal Arauto
  • Foto: Divulgação
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    Ex-governador contou detalhes da morte de Euclides Kliemann, atingido por um tiro no estúdio de rádio do município

    No Dia Nacional do Rádio, celebrado nesta quarta-feira (21), o ex-governador Pedro Simon recordou um homicídio que aconteceu em Santa Cruz do Sul na década de 60 e choca, até hoje, parte da comunidade. Os fatos envolvendo Euclides Nicolau Kliemann – morto com um tiro disparado por um adversário político no estúdio de uma rádio de Santa Cruz – ganharam destaque, na época, em todo o Brasil e mobilizaram até mesmo o presidente da República.

    O político, que dá nome à avenida que liga a região central ao Bairro Arroio Grande, teve atuação destacada na comunidade santa-cruzense. Formado em Contabilidade pelo Colégio Marista São Luis, na década de 1940, se mudou para Porto Alegre, para estudar economia e, depois da formatura, retornou para Santa Cruz e casou com Margit Irene Mailaender. No município, foi um dos fundadores do Corinthians, fomentando a prática do basquete e vôlei.

    Kliemann foi eleito, em 1954, deputado estadual, pelo PSD. Até 20 de junho de 1962, a liderança santa-cruzense apresentava projetos e levava uma vida normal representando o Vale do Rio Pardo na Assembleia Legislativa. No dia em que o casal estava completando 18 anos de casamento, o corpo da mulher foi encontrado com a face desfigurada, indicando que havia sofrido pancadas no rosto. Na época, o maior suspeito era o próprio Euclydes.

    Quando Margit foi morta, Pedro Simon era deputado estadual e fez questão de dar apoio ao colega de Santa Cruz. “Surgiram comentários absolutamente sem conteúdo fazendo insinuações. O Kliemann viveu um regime de muita angústia, muito sofrimento. Eu era um daqueles que ficaram solidários com ele”, lembrou. Com a divulgação de matérias marcadas por acusações, a reputação de Euclydes despencou após o assassinato, que segue sem solução até hoje.

    Durante a entrevista concedida à reportagem do Portal Arauto, Pedro Simon afirmou que tem certeza que o colega era inocente e foi alvo de perseguição da mídia e de um delegado, que se tornou obcecado pelo caso. Por semanas, o deputado de Santa Cruz foi alvo de comentários em discursos feitos na Assembleia Legislativa, em programas de rádio e televisão e materiais publicados em jornais espalhados pelo Rio Grande do Sul. Para o ex-governador, a pressão gerada ajuda a explicar o homicídio de Kliemann, um ano e dois meses após da morte da esposa.

    Depois de conceder uma entrevista para uma rádio de Santa Cruz, Euclydes permaneceu nas dependências da emissora para acompanhar o pronunciamento de Floriano Peixoto Karan Menezes, o Marechal, um dos opositores político e que era filiado ao PTB. Um comentário sobre a morte de Margit despertou a ira de Kliemann, que invadiu o estúdio, e, em uma discussão, foi baleado. O disparo, inclusive, foi transmitido e os ouvintes puderam acompanhar o som.

    O pequeno intervalo entre as mortes de Euclydes e Margit e os fatores envolvidos levaram os jornais à loucura. O caso, inclusive, chegou ao presidente da República. João Goulart era colega de partido do Marechal e, segundo Pedro Simon, ajudou na contratação de um advogado que era considerado referência na área criminal. “O Jango pagou à vista para fazer a defesa. Foi pago um milhão pra fazer a defesa”, revelou.

    Meses depois, com a chegada do Regime Militar, o profissional que estava representando o responsável pelo disparo abandonou o processo e Pedro Simon foi o indicado para assumir a função. “Eu tive muito respeito pelo Kliemann. Desde o início, fiz questão de esclarecer que eu tinha convicção absoluta de que ele não tinha nenhum envolvimento com a morte da mulher dele. Inclusive, fiz contestação dura ao delegado e achei que ele tinha sido um dos corresponsáveis pelo que aconteceu porque levantava aquelas indagações”, expressou.

    Simon disse que, quando chegava em Santa Cruz, para acompanhar as movimentação que aconteciam no processo judicial, era visto como inimigo. “O ambiente era realmente muito tenso. Eu ia para ouvir as testemunhas. Lembro que cheguei tarde e fui a um restaurante. Parecia um filme americano, todo mundo me olhava”, colocou. Para garantir a segurança pessoal, o político estava sempre acompanhado de dois assessores, inclusive quando estava descanso no hotel.

    Como o caso ganhou apelo popular, o júri que definiu o futuro do Marechal foi realizado em um ginásio, em 1965. Segundo Simon, a estrutura comportava cerca de duas mil pessoas e estava lotada. Filas foram formadas na área externa e, assim que um grupo saía, outro entrava para acompanhar o julgamento. “Se via uma sombra de medo, de terror. Foi colocada a gravação da rádio. Parecia que ele estava se defendendo. Todo mundo chorou”, destacou. O Marechal foi condenado a um ano e seis meses de prisão por homicídio culposo, mas teve redução de pena por ser uma figura pública.