Colunista

Dom Itacir Brassiani

REFLEXÃO

As prioridades de um estado democrático

Publicado em: 21 de fevereiro de 2025 às 13:53 Atualizado em: 21 de fevereiro de 2025 às 13:54
compartilhe essa matéria

Gerar emprego se tornou selo de autenticidade e legitimidade de todos os empreendimentos econômicos, culturais e políticos

O desafio do emprego ocupa cada vez mais espaço na agenda pública e privada, especialmente com o advento da inteligência artificial e com as escaramuças do Trump, que age domo “imperador do mundo”. Até os empresários se esmeram em apresentar a geração de vagas de trabalho entre as suas prioridades. A impressão é que gerar emprego se tornou selo de autenticidade e legitimidade de todos os empreendimentos econômicos, culturais e políticos.

Mas eu pergunto, e perguntar não ofende, e ajuda a esclarecer e alinhar o debate: O objetivo principal de uma empresa é gerar empregos ou produzir lucro para seus acionistas ou proprietários? Um governo não tem outra finalidade a não ser atrair, mediante a oferta de generosos subsídios, empresas nacionais ou estrangeiras que prometam gerar empregos e aumentar o Produto Interno Bruto?

O dicionário nos ajuda, definindo emprego como ato ou efeito de empregar; como uma função, cargo ou lugar. E diz que empregar é dar emprego, aplicação ou uso; ou admitir alguém como empregado. Esclarece que empresa é uma unidade econômica de produção e comercialização de bens e serviços que objetiva o lucro. Por fim, lucro é a vantagem ou interesse que se tira de uma operação comercial ou industrial.

A conclusão é óbvia: por mais que se queira disfarçar, o objetivo principal de uma empresa é o lucro, vantagens e interesses mediante a direção e o trabalho dos seus proprietários e, principalmente, através do trabalho dos empregados. Elas fazem uso dos empregados e deles se aproveitam em função do seu objetivo. Ninguém precisa visitar o marxismo para aprender esta lição primária.

E qual é o objetivo do Estado, particularmente, do brasileiro? Eis o que diz a Constituição sobre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (artigo 3º): “Construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Assim, qualquer instituição, projeto ou iniciativa pública ou privada, nas esferas municipal, estadual ou nacional, será legítima na medida em que realizar os valores da liberdade, da justiça e da solidariedade; contribuir na eliminação da pobreza e na redução das desigualdades; promover o bem de todos os cidadãos, indistintamente; e garantir o desenvolvimento paritário das diversas regiões. O crescimento econômico, o desenvolvimento tecnológico e o emprego são metas absolutamente insuficientes!

E, então, o que dizer daqueles que repetem como um refrão enfadonho a necessidade de favorecer as empresas para que cresçam economicamente e haja emprego e, assim, o povo seja servido; de que “o bolo precisa crescer antes de ser repartido”; de que a religião deve se ocupar apenas das coisas da alma e da prosperidade individual. São manobras diversivas e pensamentos enganosos. Ou Jesus não veio para que todos tenham vida plena e em abundância (cf. Jo 10,10)?