Não é apenas o mês do cachorro louco. Talvez seja só coincidência, mas agosto tem sido trágico também na política brasileira
Na minha infância, todo mundo possuía o seu cachorro. Sem as mordomias de hoje, os cães eram tratados com os restos de comida. Praticamente não existiam veterinários e vacina para raiva não fazia parte da cultura.
Não sei se foi coincidência, mas tive vários episódios que ficaram gravados em minha memória de adolescente, sempre no mês de agosto…
Correu a notícia de que a polícia e populares perseguiam um cachorro louco. Minha mãe nos colocou para dentro de casa e meu pai ficou na porta com seu revólver. Logo o cão apareceu, babando, e parou na entrada de nosso portão. Meu pai apontou mas não atirou, pois havia casas do outro lado da rua.
O cão continuou pela rua e, logo em seguida, apareceram seus perseguidores. Soubemos, depois, que havia sido morto para o lado do estádio de futebol.
A porta da cozinha de nossa casa era fechada apenas com um ferrolho… e havia a abertura para a entrada e saída dos gatos. Meu quarto ficava a um passo da porta… Nosso perdigueiro, Duque, dormia sobre um saco, guardando a porta.
Numa noite dessas acordei com o ganidos de nosso cão sendo atacado por um cachorro louco. Segurando a frágil porta, só depois que o barulho cessou é que abri a porta e consolei nosso cão, todo mordido e babado.
No dia seguinte nosso pai o prendeu e providenciou na vacina antirrábica.
O terror me acompanhou por muito tempo pois todo mundo “sabia” que a raiva poderia se manifestar em 7 horas, 7 dias, 7 meses ou 7 anos…
Numa ocasião em que minha mãe estava no hospital, contei minha preocupação a um dos dois médicos da cidade e ele mandou que eu fosse ao Posto de Saúde e iniciasse um tratamento. Não cheguei a completar o tratamento, mas as 12 injeções que tomei já aliviaram minha consciência.
Meu irmão mais novo não teve a mesma sorte. Mordido por um cãozinho do vizinho, o qual estava com a doença, precisou fazer as 21 injeções antirrábicas.
Talvez seja só coincidência, mas o mês de agosto tem sido trágico também na política brasileira. Além do chato “sieben schleva”, que nos impõe sete semanas de dorme-dorme, eu tinha apenas seis anos quando o Brasil foi abalado com o suicídio do Presidente Getúlio Vargas.
Foi no mesmo agosto que tivemos a renúncia de Jânio Quadros, a Campanha da Legalidade do Brizola, a morte misteriosa de Juscelino Kubitschek, o início da derrubada de Collor por seu próprio irmão Pedro e a cassação do mandado da Presidente Dilma Rousseff. A morte do candidato a presidente Eduardo Campos veio se somar às tragédias que marcam o mês de agosto. A trágica morte da amada Princesa Diana encerrou o mês das desgraças.
Este mês de agosto ainda nem chegou a fim e já tivemos um inusitado acidente aéreo em Vinhedo (SP), que vitimou 62 pessoas. Em outros incidentes, pneus estouraram no pouso de um jato no aeroporto de Florianópolis, bloqueando a pista, o mesmo acontecendo em decolagem de outro avião no aeroporto de Campinas. Ou há um problema de manutenção ou a bruxa, mesmo, está solta.
Para não ficar atrás, escândalo estoura em Brasilia, denunciado em tópicos pelo jornal Folha de São Paulo. Segundo as gravações obtidas, o Min. Alexandre de Moraes teria solicitado informalmente ao Tribunal Superior Eleitoral que produzisse relatórios sobre investigados nos intermináveis inquéritos das fake news e das milícias digitais. Aliado ao bloqueio das “emendas PIX” pelo STF, a reação foi imediata no Congresso pregando o impedimento do ministro.
Até que o mês de agosto termine, e aproveitando a lua cheia, melhor semear salsa, como minha avó ensinava, com a certeza de que ficarão sempre verdes e não produzirão sementes.
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