Patrícia e Felipe Bartz, com suas filhas Sofia e Sara, são sobreviventes da maior tragédia climática gaúcha. Eles perderam quase tudo, mas ganharam nova chance de viver
Enchente. Poderia estar no dicionário dos gaúchos ao referir-se ao desastre, à tragédia, à destruição sem precedentes causada pelo excesso de chuva. Poderia vir acompanhada de uma série de complementos como resiliência, solidariedade, empatia, doação, recomeço. O que isso tudo tem a ver com este domingo de Páscoa? Muitas famílias perderam muito e muitas perderam tudo. Mas também são muitos os que tiveram a chance de recomeçar com o que têm de mais valioso. Eis o sentido da festa cristã.

MORADIA ANTES DE DESABAR | ACERVO PESSOAL
Patrícia e Felipe Bartz viram sua casa desmoronar em Ponte Rio Pardinho, em Santa Cruz, algo jamais sonhado, afinal, a moradia atravessava gerações. Onde restam os escombros do que até um ano atrás era chamado de lar. Dia 30 de abril de 2024 será inesquecível para a família – e tantas outras que viveram o drama das inundações. A casa, construída antes da enchente de 1941, jamais passou por cena parecida. A água levou a moradia, o galpão, os móveis, os pertences pessoais, os animais. Felipe trabalha com tabaco, carro-chefe da economia, milho e soja, enquanto que a esposa se dedica a cuidar da filhas, Sofia, de sete anos, que é especial, possui uma condição genética rara e ainda não caminha e não fala, e Sara, de três anos. Por mais que tivessem levantado os objetos da casa, das roupas às fotos de família e os insumos da lavoura, não adiantou. Foi preciso separar algumas vestimentas, colocar as crianças em cima da cama e agir. A água começou a subir rapidamente e era preciso apelar por socorro para salvar o bem mais precioso.

RESGATE MOBILIZOU BOMBEIROS E VOLUNTÁRIOS NO ANO PASSADO | ARQUIVO ARAUTO
O resgate veio de jet-sky e as lembranças do casal, cercadas de emoção. “A gente iria pelo menos tentar se salvar, nadar, se agarrar, mas e as crianças?”, questionava Patrícia. Para ela, a salvação era o jet-sky. “Botei o colete nas gurias, peguei a Sofia, dei pro meu vizinho e disse: não solta essas gurias, porque é tudo o que eu tenho. Larguei a Sara, ela agarrou no meu braço e gritava: mãe, mãe“, recorda, sem saber se as veria de novo. Quando Felipe chegou na propriedade após pedir por socorro, a esposa falou: as meninas já foram. O casal se pôs a chorar, mas teve que redobrar as forças, juntar o que era possível entre roupas, fraldas e medicamentos da filha para ir embora. Uma hora mais tarde, a casa ruiu.
Se no Rio Grande Caramelo virou símbolo, para os Bartz sobreviveu a égua Faísca

ÉGUA FAÍSCA SOBREVIVEU | ACERVO PESSOAL
Aliada na terapia da filha Sofia, a égua Faísca estava na propriedade quando a água começou a subir. Ainda que Felipe houvesse retirado os cães, a égua era impossível levar no resgate. Mais uma vez, o casal colocou nas mãos de Deus. A esperança era que ela havia se salvado, encontrado algum lugar para se refugiar. E ela sobreviveu. A festa das filhas encheu a família de felicidade. Se os demais animais não conseguiram a mesma sorte, o animal símbolo da resiliência, tão importante para o tratamento da filha, está junto dos Bartz.
A família recomeçou a vida na mesma propriedade, mas em uma área elevada. Em um forno e galpão dedicados ao tabaco, a família adaptou um espaço e utilizou material recebido por doações para construir uma pequena moradia e enfim retomar a vida com o que mais importa para eles: estarem juntos de novo. “São bens materiais e afetivos que a gente perdeu, mas o que é mais valioso permaneceu. Assim como a Páscoa é a ressurreição de Jesus, nós ganhamos uma nova chance para viver, temos um novo aniversário. Deus permitiu que essa história não terminasse por aí, que continuássemos todos juntos. Esse é o melhor presente de Páscoa: estar juntos de novo e termos sobrevivido a essa batalha”, resumiram Felipe e Patrícia.
O Especial de Páscoa do Grupo Arauto conta essa história também em vídeo, protagonizada pela Patrícia e pelo Felipe, pelas filhas Sofia e Sara, além da égua Faísca. Com seu propósito de abraçar a cooperação e o fortalecimento das comunidades onde está inserida, a Sicredi Vale do Rio Pardo é a apoiadora master deste projeto da Páscoa do Recomeço. Também acompanham este especial as empresas Isis Bitencourt Marcenaria e Designer de Interiores, Dog Center Lanches e Mercado Sonnentall, que acreditam na força do renascimento, das novas chances, da fé e da esperança.
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