Há alguns anos eu trabalhei como garçom em um hotel na Irlanda. Quando vi a vaga em um anúncio, me interessei muito, afinal de contas, além do valor do meu salário, sabia que certamente iria receber gorjetas polpudas e, por isso, me esforcei para ir bem na entrevista.
Há alguns anos eu trabalhei como garçom em um hotel na Irlanda. Quando vi a vaga em um anúncio, me interessei muito, afinal de contas, além do valor do meu salário, sabia que certamente iria receber gorjetas polpudas e, por isso, me esforcei para ir bem na entrevista. Deu certo.
No exterior, os garçons dobram ou triplicam seus ganhos em função das gorjetas. É diferente do Brasil. A grande questão foi que, na entrevista, fui informado que seria garçom do café da manhã, ao invés de jantares e almoços. Automaticamente, imaginei que as gorjetas não viriam como pensei. Como precisava de trabalho, resolvi encarar mesmo assim.
No primeiro dia, já fui perguntando para todos os membros da equipe de garçons se recebiam gorjetas ali, naquele horário, e as respostas foram unanimes: “NÃO”. Aquilo até me desanimou um pouco, mas lembrei que para muitas coisas na vida querer é poder, e temos que fazer por merecer. Então, comecei uma campanha imensa para conseguir tirar leite de pedra, conseguir uma boa remuneração extra no café da manhã.
Alguns dias depois, um homem carrancudo entrou no refeitório. Eu o abordei e o convidei para sentar e ele, nem sequer, responder meu bom dia. Logo em seguida, me pediu algumas coisas, dentre elas um chá. Perguntei se gostaria que eu adoçasse ou não, se queria a xícara cheia ou não. Enfim, vendo aquela cara feia, ao invés de ficar bravo com ele, pensei que ele precisaria um pouco mais de atenção e o fiz com todo carinho do mundo.
Ele foi embora depois de meia hora e nem se despediu de mim, mas tudo bem. Fui limpar sua mesa e, ao levantar seu prato, vi que ele havia ali deixado mais de uma dezena de moedas, elas eram douradas e pareciam tesouro.
Não podia acreditar no que estava vendo! Fiquei muito grato e, naquele dia, um conceito foi plantado em minha cabeça: vejo muitas pessoas dizendo que esperam algo acontecer para fazer o que precisa ser feito, quando, na realidade, devemos fazer o que precisa ser feito para que algo aconteça. Alguns amigos me diziam que quando o cliente chegava com cara feia, eles nem se esforçavam, como quem diz: ele tem que fazer a parte dele primeiro para eu fazer a minha. Um grande erro, porque só quando fazemos a nossa parte as coisas acontecem.
Daquele dia em diante comecei a aprender falar “bom dia” em vários idiomas para fazer um atendimento diferenciado a cada hóspede. Me interessava por fazer com que saíssem do hotel com uma carga extra de energia de manhã, fazia meu melhor, mesmo quando aparentava não ser correspondido.
Depois de algumas semanas, naquele mesmo local onde nunca haviam sido dadas gorjetas, eu recebia muito dinheiro extra dos hóspedes, em retribuição aos meu atendimento. Percebi que algumas pessoas da equipe mudarem sua postura ao ver como eu fazia o atendimento e também começaram a receber.
Lembro de uma lição que ouvi do meu pai: “Mude a atmosfera, saia e vá acima das nuvens onde o céu é sempre azul”. É isso que tento fazer todos os dias e, realmente, os resultados são outros! Tente você também!
Rafael Régis Somera