Iniciativa do 18º Núcleo do Cpers trouxe escritor Mario Papo Santarem para dialogar na programação em alusão à Consciência Negra
Ainda vale a pena recordar fatos que ocorreram há um, dois ou três séculos? Por que escarafunchar a miséria humana corrente a bordo das grandes embarcações da Marinha branca, em uma viagem que inicia lá no Brasil-colônia, navega pelas águas da monarquia e aporta na república velha? Que importância tem a luta de uma gente inculta – explorada – para quem o Brasil sempre deu as costas? Depois de tanto tempo, ainda faz sentido falar daqueles marujos – quase todos afro-descendentes – apartados muito cedo de seus mundos? Que sentido faz içar essa herança torpe de castigos, mortes, feita de paradoxos, entre a modernização da Marinha, em 1905, e o tratamento análogo à escravização, que os governos e a instituição davam à sua tripulação?
Pois o escritor Mario Papo Santarem quis conversar sobre tudo isso e o 18º Núcleo o Cpers fez o chamado. Na manhã desta terça-feira (19), na Escola Vera Cruz, os estudantes ouviram o relato do autor do livro “João Cândido: sonho e castigo”, lançado no dia anterior na cidade-natal do autor, Rio Pardo, e recentemente na Feira do Livro de Porto Alegre. O evento integra as reflexões sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quarta-feira (20). Segundo a coordenadora do Cpers, Cira Kaufmann, é importante resgatar a história, fortalecer a cultura e promover o conhecimento. Ainda, ter o privilégio de contar com um autor da região, natural de Rio Pardo, contar da sua experiência de escrita aos alunos é enriquecedor, além de recuperar a figura de João Cândido, nascido em Encruzilhada do Sul, tão importante e ao mesmo tempo desconhecido para muitos.
Tanto que os estudantes, questionados se já tinham ouvido falar do “Almirante Negro”, como ficou conhecido João Cândido Felisberto, se calaram. Mas o escritor contextualizou ao apresenta-lo como líder da Revolta da Chibata. “Até 1910, havia na Marinha os castigos exagerados nos navios, a chibata, a partir desse movimento liderado por João Cândido – para nós, do Rio Grande do Sul, ele é um herói – ele dá um basta, quando um marinheiro é açoitado com 250 chibatadas”, resgata o escritor, feliz em conversar com os estudantes, com a comunidade. À noite, a partir das 19 horas, o bate-papo se repete, novamente por iniciativa do Cpers Sindicato, na Sociedade Ginástica, em Santa Cruz do Sul.