Colunista

Luciano Almeida

Bastidores do futebol

Erros que se repetem. Acertos que não aparecem

Publicado em: 19 de agosto de 2024 às 12:12
compartilhe essa matéria

De um lado, um treinador que dá a impressão de não saber por que acerta e de insistir em erros. De outro, um navio desgovernado, sem rumo

Renatice. Uma das críticas que historicamente se faz ao técnico do Grêmio, Renato Portaluppi, é o fato de ele eleger prioridades – o que não é de todo anormal nem condenável – e rifar as demais competições de que o clube participa. Assim, virou rotina o treinador fazer preservações tão profundas, especialmente no Campeonato Brasileiro, que às vezes nem a segunda opção em determinada posição é utilizada. No Gauchão, por exemplo, há situações em que nem ele, treinador, acompanha o time. Ele se preserva. É bem verdade que neste ano, o Renato andava mais comedido. Preservava um ou outro, cuja sequência de jogos recomendava, mas mesclava com titulares com bom ritmo. Não no último sábado, na derrota do Grêmio para o Bahia. Neste jogo, o Renato voltou a ser Renato. E como costuma acontecer neste tipo de situação, o Grêmio perdeu. Neste caso o resultado retrata bem a superioridade do time adversário sobre um Grêmio muito descaracterizado. O time inteiramente reserva apresentou muitas fragilidades, especialmente uma que também tem sido alvo de críticas há muito tempo: a precariedade defensiva e a ausência de jogadores com vocação para a marcação, especialmente no setor de meio campo, aberto com Du Queiroz e Pepê. Era previsível que o time teria problemas, como de fato acabou acontecendo. Marcou pouco, teve dificuldades para construir, Pepê outra vez foi um jogador sem intensidade, Aravena e Nathan Fernandez renderam muito pouco, Diego Costa esteve fora do jogo, sem ritmo, e as poucas chances criadas, foram desperdiçadas. A derrota manteve o Grêmio fora, mas ainda bastante próximo da zona de rebaixamento. E reafirmou uma velha máxima do futebol: “de onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada”.

Renatice II. O Renato, como treinador de futebol, está sujeito a críticas. Algumas são justas, outras desmedidas e tudo está dentro do pacote. Luxemburgo diria que pertence ao futebol. Mas a postura do treinador, nas entrevistas coletivas pós-jogo, está passando dos limites. E faz algum tempo. Primeiro, porque passam da linha da confiança e escorregam para a arrogância e a prepotência de quem julga ser o dono da verdade e o único conhecedor do futebol. Segundo, porque ambientes beligerantes geram ainda mais pressão. E terceiro, porque ele deixa de falar – ou fala o que todo mundo sabe não ter consistência – ao torcedor gremista. Porque quando concede entrevistas, o Renato não fala apenas e nem prioritariamente aos jornalistas. Fala ao torcedor, principal ativo do clube. E este torcedor, há muito tempo, ou tem ficado sem entender as decisões do seu treinador, ou tem recebido respostas que beiram o deboche. Ou que subestimam a mínima inteligência e a capacidade de o torcedor ver e entender futebol.

Trabalho invisível. O Roger Machado foi retirado do comando do Juventude, para ser o treinador do Inter. Imaginava-se – e é justo ainda se manter esta expectativa – que sua capacidade de organizar time, pudesse fazer com que as individualidades bastante qualificadas do grupo colorado, passassem a render mais. Roger era – e é justo que ainda seja – a esperança de organização tática e da criação de um padrão de jogo e de uma identidade. Mas até aqui não se vê nada disso. E evolução mesmo, se existe, é quase imperceptível. O adversário mais recente, por exemplo, era o Atlético GO, lanterna do campeonato, 15 jogos sem vencer, nenhuma vitória até então sob seus domínios. O Inter, embalado depois da vitória sobre o Juventude. A receita perfeita para se iniciar uma sequência de bons resultados? Nada. O Inter voltou a ser um time em qualquer identidade, sem padrão e sem imposição. Um time que mesmo tendo boas individualidades, marca muito mal e sem intensidade, é desencaixado e espaçado, e que para atacar depende muito mais da vitória pessoal, do que de um trabalho coletivo mais lúcido. Nada funcionou, contra o pior time do Brasileirão. O time não criou e na frente teve um ataque outra vez inoperante. O Valência outra vez foi um jogador disperso e fora do jogo. E atrás, o Inter tratou de errar tanto, a ponto de ajudar o adversário a fazer o gol da vitória. E de mais um constrangimento colorado.

Desmanche. O momento colorado, entrando no nono mês do ano, dá a sensação de terra arrasada, fim de festa e de um desmanche no departamento de futebol. Sem rumo e sem lideranças dentro ou fora do campo. O Inter hoje, parece uma embarcação à deriva.