Maio Laranja

Reforço no combate ao abuso e à exploração sexual infantil

Publicado em: 17 de maio de 2025 às 07:00
  • Por
    Cristiano Silva
  • Ana Paula Schäfer e Lisandra de Carvalho atuam nos casos em Vera Cruz | Foto: LETÍCIA DIEHL
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    Parceria entre polícia e Prefeitura de Vera Cruz possibilita trabalho especializado na identificação de casos, elucidação de crimes, responsabilização de autores e acolhimento às vítimas

    Crime que apresenta uma das principais taxas de subnotificação no Brasil, muitas vezes escondido entre as paredes das casas e cercado de medo e vergonha por parte das vítimas, o abuso sexual de menores ainda é um desafio quando se trata de ações de prevenção.

    Este domingo (18) é marcado pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Ao longo do mês, dentro do chamado Maio Laranja, são realizadas campanhas de conscientização que visam dar visibilidade a este grave assunto que vitimiza milhares de menores de idade no país.

    Com o objetivo de identificar casos, elucidar delitos e responsabilizar autores, a Delegacia de Polícia (DP) de Vera Cruz mantém um trabalho especializado de combate a esses delitos.

    Com a experiência de quem comandou por 17 anos, de 2005 a 2022, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Santa Cruz do Sul, a delegada Lisandra de Castro de Carvalho passou a realizar um trabalho focado no combate a esses crimes desde quando foi designada para assumir a DP de Vera Cruz, colocando, sobretudo, a vítima no centro das investigações.

    “A palavra é fundamental, tem e merece credibilidade. Na escola, na assistência social, e principalmente em casa, a mãe ou o pai precisa acreditar, e deve trazer isso para a polícia”, salientou a delegada. Segundo o conhecimento da titular da DP de Vera Cruz, são poucos os casos em que a vítima falta com a verdade.

    E quando isso ocorre, é rapidamente perceptível que a história não se sustenta devido a contradições. “A palavra da vítima é a principal prova. Claro que ela é analisada dentro de um conjunto probatório, que inclui depoimentos de familiares, análise de comportamento dela e do agressor, com aprofundamento das informações”, enfatizou.

    Parceria da polícia com o Município

    Para especializar ainda mais os atendimentos às vítimas e seus familiares, a delegada Lisandra buscou a parceria junto à Prefeitura de Vera Cruz, que cedeu a psicóloga Ana Paula Schäfer para realizar o trabalho.

    Para a profissional do Município, prestar atenção no comportamento de crianças e adolescentes é o primeiro passo para detectar sinais de abuso que potenciais vítimas possam estar sofrendo.

     

    Trabalho em parceria vem sendo eficaz | Foto: Letícia Diehl

     

    “Verificamos pelo padrão que normalmente os autores são familiares ou pessoas próximas, com um perfil muito insistente, tentando agradar aquela criança, buscando contato físico através de colo, abraço, cócegas”, salientou.

    Segundo Ana, em muitos casos o agressor busca comprar o silêncio da vítima com presentes e agrados, que vão desde celular, dinheiro, bala ou chocolate. “Nos deparamos com vários casos assim, porque para o abusador tem o vício neste comportamento abusivo. Ele não quer uma vez só, quer mais, e vai procurar estar a sós com essa vítima sempre que puder”, disse a psicóloga.

    Subnotificação

    Os resultados desses crimes cometidos pelos agressores normalmente são gritantes no comportamento das vítimas. Queda no rendimento escolar, irritabilidade e ações sexualizadas inadequadas que não tinha e passou a ter são algumas das características já apresentadas por crianças e adolescentes abusados.

    “Precisa-se estar atento a esses sinais”, enfatizou Ana Paula Schäfer. Em levantamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, entre 2018 e 2023, as ocorrências envolvendo violência sexual de menores de 14 anos somaram 18 mil registros.

    Embora o número aparente uma grande cobertura de casos, estudos indicam que apenas 10% das situações são registradas, o que mostra a amplitude da subnotificação. “Esse tema é sempre atual e precisa ser difundido. Na prática, nos deparamos com casos de vítimas que sofrem violência há anos, e a denúncia vem muito tempo depois”, detalhou a delegada Lisandra de Castro de Carvalho.

    “Esse é um momento para debatermos e empregarmos ações de repressão, com prisões, elucidação de casos e encaminhamento de inquéritos para responsabilização dos autores, mas também de conscientização para que mais pessoas se sintam encorajadas a falar e trazer ao conhecimento da polícia os casos”, finalizou a chefe da Polícia Civil de Vera Cruz.

    Como contatar

    Quem estiver buscando auxílio, deve comparecer no Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais), que fica na Rua Carlos Wild, 511, anexo ao Ginásio Poliesportivo, Bairro Araçá. Uma rede de acolhimento está disposta para ajuda com acompanhamento. Os telefone são (51) 3718 3483 e WhatsApp (51) 9 9598 2698.

    Já a delegacia fica na Avenida Nestor Frederico Henn, 2238, Centro. Quem tiver informações que possam auxiliar a Polícia Civil, deve entrar em contato pelo telefone (51) 9 8416 7934, que também é WhatsApp. Esse mesmo número pode ser usado pela comunidade para denunciar crimes. O sigilo é mantido.

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