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Arte como instrumento de saúde mental: a vereda da cura pela arteterapia

Publicado em: 16 de fevereiro de 2024 às 08:24 Atualizado em: 18 de março de 2024 às 14:56
  • Por
    Jaqueline Rieck
  • Fonte
    Jornal Arauto
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    O uso das artes como ferramenta de saúde mental não tem contraindicação e nem público-alvo, podendo beneficiar pessoas de qualquer idade a se conhecerem melhor

    Surgida no campo da psicologia, a Arteterapia passou a ser aplicada em diversos espaços. O uso das artes como ferramenta de saúde mental não tem contraindicação e nem público-alvo, podendo beneficiar pessoas de qualquer idade a se conhecerem melhor. A prática, que incorpora artes plásticas, fotografia, dança, performance e vídeo, pode ser indicada para casos de ansiedade e depressão, mas não se limita ao campo da saúde exclusivamente. 

    Para o psicólogo especialista em Saúde Mental, Jéferson Diogo de Oliveira Santos, de 31 anos, as artes sempre foram uma maneira de expressar o que não conseguia de forma verbal. “Eu posso dizer que as artes me salvaram inúmeras vezes e isso me levou a experimentar várias materialidades. Na minha prática artística pessoal tenho utilizado muito o desenho, a pintura, mas também o corpo, a performance, o audiovisual. Gosto de estar sempre experimentando”, comenta.

    O primeiro contato do arteterapeuta de Rio Pardo com a prática foi em 2017. Através de livros estrangeiros, em que os autores utilizam as artes em suas práticas, ele se sentiu incentivado a iniciar uma pós-graduação em arteterapia, ainda no último ano da graduação. Atualmente arte-educador pela PUC-Rio, pós-graduado em artes pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ele também é mestrando em Educação pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). “Pesquiso sobre o ateliê na formação do arteterapeuta”, conta.

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    O artista-pesquisador relata que a atração pela arteterapia veio da compreensão de que as artes possuem enorme potencial tanto criativo, quanto curativo. “Nossos povos originários sempre souberam disso, e podemos testemunhar nos rituais, cânticos, danças de todas as etnias. Aquilo que chamamos de artes, são simplesmente a vida e os rituais de muitos povos. As artes sempre vão nos curar de alguma forma”, disse. 

    Influências

    Em sua formação, ele cita três profissionais que serviram de inspiração: Shaun McNiff, um dos pioneiros nos EUA e responsável pelos primeiros cursos na terapia das artes expressivas; Pat B. Allen, que é uma artista que enxerga a arte como um caminho espiritual e atua com ateliês abertos em comunidades; e Nona Orbach, artista e arteterapeuta de Israel. Ele cita ainda as brasileiras Corina Post, Ana Luisa Teixeira de Menezes e a psiquiatra Nise da Silveira, grande defensora das artes na saúde mental.

    De acordo com Jéferson, a profissão ainda deve ser regulamentada no Brasil, pois necessita de formação específica e manejo de um profissional qualificado. O grande diferencial é a atuação do terapeuta, que não só facilita o processo, mas conduz a prática, indica a melhor atividade e facilita ateliês permitindo que cada pessoa se expresse da maneira mais autêntica possível. “Além disso, na arteterapia não buscamos uma obra esteticamente bonita, mas sim nos permitimos criar e mergulhar em nosso interior através das imagens que surgem – e aprender com elas”, afirma. 

    Atuação profissional

    Desde 2019, Jéferson mantém o projeto Ateliê Terapêutico Social, onde facilita grupos gratuitos para pessoas em situação de vulnerabilidade. A iniciativa começou em Rio Pardo, foi realizada em Santa Cruz do Sul e também na Capital, onde ele reside atualmente. “Na prática clínica também ofereço atendimentos particulares e facilito alguns ateliês em grupo com temáticas diversas e também grupos de estudos para profissionais que queiram experimentar as artes em suas atuações”, explica. 

    Neste ano, o profissional realizou a tradução do livro de Nona Orbach que será lançado em breve e pretende seguir levando o poder terapêutico das artes por onde passar, inclusive com alunos de psicologia, compartilhando teoria e prática do trabalho com artes dentro da profissão. “Outra grande utopia que tenho é que as políticas públicas comecem a valorizar a arteterapia e ofertá-la em seus serviços. Já temos algumas inserções da arteterapia em algumas políticas de saúde, mas infelizmente não se abrem as portas para profissionais qualificados nestes espaços”, completa. É possível conhecer mais sobre o trabalho do profissional pelo Instagram nos perfis @jefersondiogo.art e @arteterapia.junguiana.

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