A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (13) a Operação EmendaFest, que investiga um suposto esquema de desvios de recursos públicos envolvendo emendas parlamentares destinadas ao Hospital Ana Nery, de Santa Cruz. A ação trouxe à tona suspeitas de corrupção ativa e passiva, além de possível uso irregular de verbas públicas mediado por contratos de captação de recursos.

A operação

Com o cumprimento de 11 mandados de busca e apreensão e dois mandados de busca pessoal, a PF atuou em Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, outras cidades do Rio Grande do Sul e até em Brasília. Durante a ofensiva, mais de R$ 250 mil em espécie foram apreendidos nas residências de investigados.

As investigações apontam que uma empresa de captação, ligada a um lobista, teria recebido 6% dos valores das emendas destinadas ao hospital. Entre os repasses investigados estão três emendas do deputado federal Afonso Motta (PDT), que somam R$ 1,07 milhão e foram realizadas entre novembro de 2023 e janeiro de 2024. A suspeita é de que, devido à intermediação do lobista, os valores inicialmente planejados para outros municípios tenham sido redirecionados ao Ana Nery.

Além do afastamento de dois investigados de suas funções públicas, a Justiça determinou o bloqueio de valores em contas de pessoas físicas e jurídicas.

O posicionamento do Hospital Ana Nery

Em coletiva de imprensa, o diretor do hospital, Gilberto Gobbi, afirmou que a instituição foi surpreendida pela operação e garantiu transparência nos processos administrativos. Segundo ele, a empresa de captação de recursos foi contratada há cerca de três anos, seguindo práticas adotadas por outras entidades do setor, com pagamento de 6% do valor captado por meio de contratos legais e notas fiscais, utilizando recursos próprios do hospital.

“Fomos surpreendidos com essa operação. A Polícia Federal esteve aqui, recolheu documentos e pendrives, mas tudo foi prontamente entregue, porque sempre trabalhamos com a maior transparência possível”, declarou Gobbi. Ele ressaltou que todas as emendas parlamentares passam por trâmites rigorosos de planejamento, execução e prestação de contas, aprovados pelo Conselho Municipal de Saúde.

O diretor destacou ainda que, se for comprovada qualquer irregularidade, os responsáveis serão punidos. “Quem faz, tem que pagar. Se alguém cometeu algo errado, será responsabilizado. Não aceitaremos nenhuma situação fora da normalidade”, enfatizou.

A nota do deputado Afonso Motta

O deputado federal Afonso Motta é citado no inquérito, mas não foi alvo da operação – a PF ainda investiga se ele tinha conhecimento do suposto esquema. O chefe de gabinete do deputado e outros suspeitos foram alvos de buscas. O parlamentar também se manifestou, negando ser alvo direto da operação. Em nota oficial, Motta afirmou estar surpreso com as apurações e informou que está buscando acesso aos autos para compreender as circunstâncias e se posicionar adequadamente.

“Afirmo que nem eu, nem o meu gabinete fomos alvos da operação da PF. Estou surpreso com os fatos e aguardando esclarecimentos”, declarou Motta por meio de sua assessoria.