Eu gosto de olhar para trás, nesta trajetória maternal, e ver o quanto eu me permiti rever conceitos e o quanto de crescimento essas mudanças me proporcionaram.
Quem nunca mordeu na língua que atire a primeira chupeta. Quem nunca disse algo antes de se tornar pai/mãe e depois, na prática, viu que a idealização não funciona exatamente conforme planejamos.
Eu já mordi diversas vezes na língua. A primeira delas, há anos, justamente com a chupeta, o bico. Mentalizava que minha filha jamais necessitaria dela, e foi assim até entrar na escolinha. Ainda antes, até porque quando havia crises intensas de choro por cólica eu mesma tentava fazê-la aceitar o artifício, e ela nada… talvez sentindo a minha própria resistência. Mas na escola fez-se necessária e foi aceita, paciência.
A segunda que me lembro – memória boa a minha – foi o tal do chuca-chuca, ou a chuquinha, como preferirem. Sempre disse muito segura que jamais faria “uma coisa dessas”. E descobri por que: eu, quando criança, vivia de chuca, e não gostava nada nada porque doía pentear e puxar aquela meia dúzia de fios no topo da cabeça. Penso que naquela época os recursos para amarrar não deveriam ser como hoje, quando as borrachinhas de silicone facilitam o manuseio. Então, um belo dia, a pequena – ainda bebê – veio para casa ostentando um belo chuca-chuca. Ali já era tarde, a professora sabia que eu não gostava e, ainda assim, fez, para mostrar que ficava mesmo uma graça e era até útil. Aceitei.
A palmadinha é a próxima da lista. Ah, uma palmada é educativa, cresci assim e sou uma pessoa sem qualquer trauma. Mas o mundo mudou. E a maneira de educar também, ainda que os valores – esses sim – para mim permaneçam os mesmos que aprendi com meus pais. Não dou palmada, sinto que de nada adianta (mas sim, por vezes já tive vontade, tive que respirar fundo e contar até 10).
Pintar as unhas, passar maquiagem. Relutei o quanto pude, mas acabaram-se meus argumentos e me deixei levar pela vaidade da pequena, de sair bem arrumada para ir passear. Quando ainda estava pegando a “prática” da automaquiagem, adorava fazer tudo colorido, do tipo um olho com uma sombra de cada cor. Nas unhas, a mesma coisa. Quanto mais colorido, melhor e o resultado era um arco-íris em cada mão. Hoje, com a maquiagem, já melhorou. Ainda que sejam cores, digamos assim, marcantes – nada de colocar apenas um brilho – pelo menos é a mesma cor nas duas pálpebras. Já as unhas, essas continuam multicoloridas. Não há limites para a imaginação, nem mesmo a moderação de uma mãe bastante básica neste sentido.
Comer doces e outras “porcarias” também está na lista. Com orgulho, digo que seguramos até dois anos e, após, mantivemos o olho bem vivo e afastado do refrigerante. Mas a alegria de um pirulito de vez em quando não pôde ser negada. Temos hoje uma mocinha que gosta muito de doces, mas que tem a oferta limitada.
Sei que ainda estamos no meio do caminho e tem muita coisa que vamos aprender na prática. Sei que todas estas idealizações prévias são o mais puro cuidado e amor. Desejamos que estes ensinamentos reflitam em uma vida saudável e sobretudo feliz lá na frente, que eles possam fazer suas escolhas de maneira sábia e segura. Afinal, a vida é feita dessas escolhas, de sim e não, de aceites e recusas. Do que nos permitimos e do que abrimos mão.
Sei também que ainda vou morder na língua muitas vezes. Quem nunca?
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