Beatmakers conquistam cada vez mais espaço

Talvez você ainda não tenha ouvido falar sobre o que é beatmaker, mas com certeza já se contagiou com a batida de uma música e ficou com vontade de arriscar uns passos de dança. É esse profissional que cria o beat, ou seja, a batida de uma música. “É como se fosse um produtor musical. Construo a melodia e a partir dela o som dos instrumentos e a parte da percussão [som produzido por instrumento de impacto, raspagem ou agitação] e faço a mixagem, que é a junção de tudo isso”, explica o beatmaker Daniel Oliveira Rodrigues, de 20 anos. 

Tru3 Beats, como é conhecido o vera-cruzense no cenário artístico, conta que se interessou pela atividade quando conheceu o trabalho de Papito Beats, beatmaker e DJ de Santa Cruz do Sul, e de Papatinho, DJ e produtor musical que trabalha com o grupo brasileiro de rap ConeCrewDiretoria. “Foi quando vi o que eles faziam que pensei ‘eu quero aprender isso’. E por ter uma referência local como o Papito, eu vi que era possível”, revela. Com objetivo traçado, começou a procurar vídeos sobre o assunto e a fazer cursos online. Foi questão de tempo para que o gosto pela atividade aumentasse, bem como a vontade de torná-la profissão. De três anos para cá, comprou equipamentos, aprendeu a mexer nos programas de computador e montou a própria gravadora. “Faz um tempo agora desde que me interessei pelo assunto e busquei aprender, mas há cerca de um ano produzo mesmo músicas para outros artistas”, conta. 

Como trabalha o beatmaker?
A criação de um beat e a produção de uma música passam por várias etapas, desde a gravação da voz do artista e da letra, a construção da melodia, da inserção do som dos instrumentos e da percussão, bem como pela harmonia, até a mixagem. “Geralmente, isso demanda umas duas semanas, depende muito do tempo que eu tenho, e se regravamos ou refizemos as partes da música mais vezes”, explica. 

Segundo Daniel, o beatmaker pode trabalhar de duas formas: alguns produtores usam a técnica chamada de Samplear, quando pegam um trecho (sample) de outra música e trabalham em cima dessa parte, tornando-a bem diferente da versão original; já outros artistas criam a batida toda do zero. 

Ao produzir uma música, além dos programas de computador, Tru3 Beats utiliza um teclado que reproduz sons de diferentes instrumentos musicais, como guitarra ou baixo. E é isso que o encanta na profissão: a liberdade do processo criativo. “Tenho essa independência para criar as batidas, ver o que combina, o que fica bom e me sinto livre para fazer minha música”, completa.

O clima é de coleguismo
Na profissão que escolheu seguir, Tru3 Beats afirma que é preciso se entregar por inteiro. Além de produzir músicas, grava videoclipes com a experiência que adquire no curso de Produção em Mídia Audiovisual – que está em andamento -, bem como já produziu um álbum com cinco músicas, para o qual também criou a capa junto com outro artista, e tem planos de produzir um CD. “Faz diferença entregar um produto completo ao consumidor, com a música e o vídeo nas plataformas digitais, mas claro, que isso tem que ser avaliado sempre, nem todas as músicas rendem videoclipes”, pontua. “É essa profissionalização do trabalho, das músicas, da apresentação dos materiais que têm contribuído para ampliar o espaço para a cultura hip hop e o trabalho dos beatmakers", acrescenta. Hoje, Daniel conta que existem pelo menos 10 beatmakers em Santa Cruz do Sul e que o clima entre todos é de coleguismo e não de concorrência. “A gente troca muita ideia, se ajuda, tira dúvida sobre os programas novos, essa relação é na parceria”, frisa ele, que acredita que essa união é que vai abrir mais portas para ele e os colegas de profissão.