Era o tempo em que se expandia a televisão e estaria próxima a instalação de uma Estação de TV em Cachoeira do Sul, do grupo Princesa. A colocação da repetidora no Cerro Botucaraí era óbvia, pois é o ponto isolado mais alto do Estado e visível desde Cachoeira do Sul
Meu tio Protásio Moreira Knewitz era um visionário. Além de professor estadual, com o qual tive aulas na 5ª série do Grupo Escolar Guia Lopes, em Candelária, também era músico, assim como meu pai.
O terno de violinos dos dois, junto com Arlindo Saueressig, que também tocava serrote, dava gosto de se ouvir, junto com o rabecão ou o banjo de Adilo Heinze – tio do senador – e os acordeões de Edenir Schmidt e Hilton Schwantz. Em dado momento largavam os instrumentos de cordas e entravam os instrumentos de sopro de Lazico e de Heitor Veloso. Meu pai tocava violino e saxofone. Era o renomado Jazz e Típica Guarany que animava os bailes da região e o programa de auditório da Rádio Princesa nos sábados à tarde.
Durante algum tempo meu tio Protásio residiu em Santa Cruz do Sul onde atuava no famoso conjunto Jatibá – Jazz e típica Batucada.
Suas incursões na política deram-lhe o cargo de Diretor da Revista Cacique, distribuída nas mais de seis mil escolas criadas no Governo Leonel Brizola.
Não afinou muito nesse grupo político e seguiu Fernando Ferrari, no Movimento Trabalhista Renovador (MTR). Lembro de um comício na porta do Clube Aliança, em Candelária, entidade fundada por meu pai, Elíbio, no salão de Schwantz e Wachholz – pai do desembargador Ari Darci Wachholz – em que Brizola o desafiou dizendo: “Protásio, ou vens conosco ou ficas na poeira da estrada…” Acabou sucumbindo politicamente, junto com o próprio Ferrari que faleceu em um acidente de avião.
Apaixonado por sua terra natal, Protásio compôs o magnifico Hino de Candelária, que recebeu arranjo de Vera dos Santos Rocha.
Seguindo Ferrari, autor do Estatuto do Trabalhador Rural, Protásio atuou na política municipal, como vereador, e apoiou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Sempre buscando coisas novas, o visionário adotou a ideia da instalação de um bondinho no Cerro Botucaraí. Era o tempo em que se expandia a televisão e estaria próxima a instalação de uma Estação de TV em Cachoeira do Sul, do grupo Princesa. A colocação da repetidora no Cerro Botucaraí era óbvia, pois é o ponto isolado mais alto do Estado e visível desde Cachoeira do Sul.
Por algum tempo foram vendidos títulos de participação no empreendimento e um grupo de trabalhadores foi instalado no topo do morro. Em uma área desmatada, bem no centro do penhasco voltado para Candelária, era possível ver, à noite, uma carreira de luzes que davam visibilidade ao empreendimento.
Ridicularizado por muitos dos adversários políticos por sua ideia futurista, vi em suas faces a alegria incontida quando, instalado sobre tonéis, no centro da Praça Alberto Blanchardt da Silveira, o primeiro protótipo de bondinho.
Dada a conjuntura política e expansão da Rede Globo, infelizmente a ideia não prosperou. Não saiu bondinho, nem Estação de TV. Os investidores possivelmente perderam seus recursos, mas a ideia, se prosperasse, certamente mudaria totalmente a história de Candelária e da região.
Meu tio não desistiu e, já idoso, iniciou a Faculdade de Direito em Santa Maria, prosseguindo em Santa Cruz do Sul a partir do segundo ano. Graças a isso eu consegui iniciar a Faculdade de Direito, dividindo com ele as despesas de transporte durante o primeiro ano.
Por essas voltas do destino, anos depois, acabei concedendo-lhe uma audiência, eu como Juiz de Direito Substituto em Candelária e ele já como advogado atuante na Comarca.
O que seria do mundo e da vida se a gente não pudesse sonhar…
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