Conhecido por atuar em casos de grande repercussão, santa-cruzense relembra momentos marcantes da carreira
Embora o tempo como universitário tenha sido incrível, foi no primeiro júri que Ezequiel Vetoretti entendeu seu papel como advogado. Formado em setembro de 2005, o santa-cruzense recebeu sua carteira profissional da Ordem dos Advogados Brasileiros (OAB) em fevereiro de 2006 e, dois dias depois, bateu na porta do juiz Gerson Luiz Petry, em busca de uma nomeação para um processo. Conseguiu um caso dificílimo, perdeu e ainda assim foi o julgamento que mudou sua história.
Modificou porque aquela experiência o tornou advogado. “Aprendi o que nenhum livro de direito me ensinou. Naquele momento, entendi meu papel”, relembra. Sem experiência, após o acusado a quem defendia receber a pena de 18 anos de prisão, Vetoretti fez questão de ir no dia seguinte até o presídio. De frente com o cliente, recomendou que buscasse um advogado mais experiente para um recurso, alguém com cabelos brancos, que pudesse ajudar mais. Foi quando o réu lhe respondeu: “Doutor, eu tenho 37 anos e até hoje ninguém falou bem de mim. Ontem quando o promotor começou a falar, eu queria morrer, mas quando o senhor iniciou senti vontade de viver. O senhor foi um anjo em minha vida e eu vou com o senhor até o fim”, disse o apenado.
Naquele momento, Ezequiel Vetoretti passou a entender sua missão. “Ser advogado é sentar no último degrau da escada dos necessitados. É saber ouvir, entender as angústias do cliente e dar voz processual para aquele que não a possui. Eu decidi ser advogado criminalista porque eu sei que pessoas boas fazem coisas ruins. As pessoas não são seus erros e elas merecem defesa”, destaca. É nisso que ele pensa, aliás, inclusive quando alguém julga o seu trabalho.
Aquele primeiro trabalho o preparou para tantos outros, ainda mais polêmicos, que enfrentou durante sua carreira. No caso do menino Bernardo, que comoveu o Rio Grande do Sul, Ezequiel Vetoretti estava do outro lado dos gaúchos. Entretanto, sempre em paz. Afinal, como ele gosta de salientar, o ser humano precisa compreender os seus diverso papéis. “Se você compreende seu papel, você não fica mal. Eu sou muito tranquilo sobre minha missão de estar do lado do acusado, travando muitas vezes a luta do um contra todos, sendo ele culpado ou inocente”, reforça.
“Não subestime nenhum tipo de problema”
De caso em caso, o santa-cruzense percebeu que precisava ser a voz legal daqueles que não têm chance de falar. “O cliente não quer apenas alguém que o faça ganhar o processo. Ele quer alguém que seja capaz de defendê-lo, quando muitos o apontam o dedo. Não faço questão de sentar ao lado do juiz, minha missão é sentar ao lado do meu cliente”, fala. Por isso, desde quando teve contato com o direito penal e o processo penal na universidade, nunca quis sair dessa área.
Entendeu que poderia ajudar, através de seu trabalho, tantas e diferentes pessoas, com as mais distintas dificuldades. “Não subestime nenhum tipo de problema. Não importa se a pessoa está sendo acusada de cometer um crime grave ou um crime de menor potencial ofensivo. É o grande problema da vida dele. Saiba ouvir, sem julgar. Dê a mão, seja amigo e seja a voz dos seus direitos legais. O advogado, muitas vezes, precisa ouvir o inaudível e olhar para o invisível”, aconselha aos mais novos.
História de inspiração e inspirações
Desde quando entrou na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), ainda como aluno de Publicidade e Propaganda, Ezequiel Vetoretti teve muitas inspirações. Tanto o apoio dos pais, Rosa Maria e Luiz Fernando Vetoretti, que sempre o deixaram livre para escolher a profissão e, com muito esforço, possibilitaram o ingresso na graduação, mas também de pessoas que, de alguma forma, o incentivaram a crescer. O primeiro deles, Hildo Ney Caspary, foi quem lhe fez perceber que, embora gostasse de comunicação, seu destino não estava na publicidade. Com um estágio no Banrisul, aprendeu mais do que serviços administrativos.
Mais tarde, com o curso de Publicidade pausado e com o de Direito em andamento, novas admirações surgiram. A cada julgamento que acompanhava como estudante, um novo nome era conhecido e passava a se tornar inspiração. Paulo Beckenkamp, Bruno Martinez Mahl, Luiz Pedro Swarovsky, Gerson Jorge da Silveira, José Paranhos Luz, João Paranhos Luz, Fernando Bartholomay, Osvaldo de Lia Pires e Amadeu de Almeida Weinmann. “Eu olhava para eles e pensava: quero ser como eles. Mas eu sabia que não seria fácil”, salienta.
E não foi. Porém, Ezequiel sempre acreditou que tudo dá certo para quem faz o trabalho com amor. Apaixonado pelo direito, seguiu em frente. Após um estágio com Leo Henrique Schwingel e Paulo Roberto Pilz, onde aprendeu grandes lições sobre o direito e humanidade, abriu seu próprio escritório e, mais tarde, após diversos acontecimentos especiais, passou a atuar também na capital gaúcha.
Lembra com carinho de Gerson Luiz Petry e Júlio César Meira Medina. O primeiro, juiz que lhe confiou muitas defesas em processos dativos, cujos patrocinados não possuíam condições de contratar um advogado. O segundo, seu professor e promotor de justiça, principal oponente no início da carreira. "Devo muito do que sou ao Dr. Gerson Luiz Petry, pois ele, sabedor da minha paixão pelo Tribunal do Júri, confiou em mim no início da minha carreira e isso eu jamais esquecerei. Também devo muito ao meu sempre professor Júlio César Meira Medina, pois soube, com muita sensibilidade, respeitar a minha inexperiência e permitir que eu exercesse meu trabalho. Nos enfrentávamos no Tribunal do Júri, eu um novato na primavera existencial, ele um experimentado e respeitado promotor de justiça. Nunca, no entanto, tentou fazer a sua experiência se sobrepor", fala.
O Escritório Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti Advogados atende tanto em Santa Cruz do Sul quanto em Porto Alegre, focado na matéria criminal que o encantou ainda enquanto era um estudante da graduação. “Sou pós-graduado em Ciências Criminais, tenho especialização em Psicologia Jurídica e agora estudo Psicodrama. Mas, quando perguntam, prefiro dizer: meu currículo é ser advogado”, diz.