Caso veio à tona após três pessoas morrerem depois de consumir bolo de Natal em Torres, em dezembro do ano passado
A Secretaria da Segurança Pública divulgou, nesta sexta-feira (10), os desdobramentos da investigação e da perícia sobre o caso do bolo envenenado que matou três pessoas em Torres, no Litoral gaúcho, na véspera do Natal. A suspeita, presa preventivamente desde o último domingo (5), irá responder por quatro homicídios triplamente qualificados, além de três tentativas de homicídio. O quarto caso se refere ao sogro, que, após ter o corpo exumado pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), foi comprovado que ele ingeriu arsênio, substância letal também usada no bolo em Torres.
O trabalho das forças de segurança do Rio Grande do Sul pode ser um marco para novos protocolos de atuação na área de saúde para mortes suspeitas. O secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, destacou o trabalho dos servidores e, também, a importância de elucidar um crime desta natureza.
“Crimes que ocorrem dentro do seio familiar são desafiadores, porque eles não podem ser prevenidos com policiamento, são crimes silenciosos. Nosso papel é mostrar que um crime repugnante como este precisa ser elucidado, com um inquérito robusto que só a investigação séria e a prova pericial podem trazer. Quero parabenizar todos os envolvidos neste caso que atuaram incansavelmente para encontrar provas técnicas e contundentes que nos fizeram chegar aos resultados que estamos apresentando”, disse.
Com uma atuação rápida e eficaz, a Polícia Civil e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) trabalharam dando celeridade ao caso do bolo envenenado em Torres, situação que ganhou repercussão pela brutalidade de envenenar seis pessoas, levando três das vítimas à morte, em uma tragédia que poderia ter sido ainda maior. Ao longo da investigação foi verificada que outra morte, ocorrida em setembro em Arroio do Sal, também poderia se tratar de um crime.
Inicialmente tratada como uma morte por intoxicação alimentar, o corpo do sogro da suspeita presa foi exumado pelo IGP para exames laboratoriais. Por já ter resultados positivos para arsênio, presente na farinha, no bolo e nas vítimas do caso que ocorreu próximo ao Natal, o IGP tinha um ponto de partida para os exames. O arsênio é um metal pesado e o seu formato em veneno tem capacidade de se conectar com materiais biológicos como o rim, o fígado e a queratina, presente em unhas e cabelos. Com as amostras retiradas na exumação, o IGP chegou rapidamente ao resultado, uma dose altíssima de arsênio também na vítima de setembro.
Amorfo e inodoro, o arsênico se constitui de um pó branco ou levemente acinzentado. Adquirido pela suspeita, o veneno foi dissimulado em grandes quantidades em itens de consumo para praticar os crimes: leite em pó e farinha de trigo.
A diretora-geral o IGP, perita Marguet Mittmann, disse que em todos os trabalhos, os níveis de arsênio localizados foram tóxicos e letais. “Os níveis de arsênio localizados em todas as amostras da exumação deram positivo no segundo nível mais alto localizados em comparação com todas as vítimas. Este resultado não deixa dúvidas da intenção de causar a morte e elimina qualquer possibilidade de contaminação acidental. Assim, como nas vítimas examinadas após a morte em Torres, constatamos que a vítima exumada teve como causa da morte envenenamento por arsênio.”
Os três homicídios então passaram a ser quatro mortes intencionais e trouxeram um novo alerta as autoridades: a facilidade com que a suspeita teve acesso ao arsênio, comprando pela internet e recebendo pelo serviço dos Correios, e também a característica acidental da morte por intoxicação alimentar. A delegada Regional de Capão da Canoa, Sabrina Deffente, ressaltou que a investigação pode ser um marco na atuação dos profissionais de saúde em casos de morte suspeita.
“Vamos ampliar essa integração com a área da saúde para estabelecer novos protocolos em casos de intoxicação alimentar, para que a Polícia Civil investigue casos como este. Inclusive, durante as investigações descobrimos que a suspeita tentou forçar que a família optasse pela cremação do sogro, para apagar os vestígios do crime, mas ela não conseguiu uma assinatura médica necessária para casos de cremação”, disse.
A celeridade dos trabalhos foi acompanhada de muito cuidado para garantir os direitos humanos e a segurança jurídica do inquérito. A prova testemunhal já garantia a prisão da suspeita, mas o delegado Marcos Veloso, que investiga o caso, foi cauteloso e, certo das provas que já tinham, aguardou a confirmação da prova pericial.
“Fizemos a revogação de um primeiro pedido de prisão, aguardando o momento certo de fazer um novo pedido, com mais elementos técnicos e incontestáveis. Iremos permanecer nas investigações, para finalizar um inquérito perfeito e não descartamos, inclusive, que ela tenha cometido outros crimes. Posso dizer que se trata de uma pessoa fria, que premeditou o crime e tinha respostas prontas para tentar desviar as suspeitas”, afirmou o delegado.
Com as provas que indicam que a suspeita estava afastada do núcleo familiar e se aproximou para poder executar o plano de envenenamento, o crime tem o acréscimo de uma qualificadora, passando a ser um triplo homicídio triplamente qualificado, uma tripla tentativa de homicídio, além do homicídio triplamente qualificado do sogro, ocorrida em setembro, em Arroio do Sal. As qualificadoras deste crime são: motivo fútil, dissimulação e emprego de veneno.
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