Colunista

Luciano Almeida

Bastidores do futebol

A Seleção Brasileira que eu não reconheço

Publicado em: 09 de setembro de 2024 às 10:14 Atualizado em: 09 de setembro de 2024 às 10:16
Seleção que tem feito adormecer | Rafael Ribeiro / CBF
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A Seleção Brasileira que já teve Zico, Sócrates, Tafarel, Romário, Bebeto e Ronaldos, hoje é de operários quase anônimos, que não encantam, não comovem, não atraem. Não fazem rir, nem chorar. Dão sono

Meu Brasil brasileiro. Eu dormi. De novo. Tem acontecido com muita frequência de eu adormecer. Será pela monotonia? Será pela apatia? Ou pela mediocridade? Será porque pela primeira vez, possivelmente desde que me entendo por gente, não conheço vários que estão ali? Sei lá, o fato é que dormi, outra vez. Em meio a um jogo de futebol, o que já seria espantoso. Da Seleção Brasileira o que, por si, já recomendaria investigação médica. Porque na Seleção deveriam estar os maiores. E os maiores, num campo de futebol, sempre tomaram a minha atenção. Justo eu, que vi alguns dos maiores com a camisa da Seleção Brasileira. A mesma Seleção que me encantou com Zico, Sócrates e Careca. Que já me envolveu com Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Romário e Bebeto. Que me orgulhou com Tafarel, Dunga e Cafu. Que já foi comandada por referências históricas como Telê Santana, Carlos Alberto Parreira e Felipão. E que hoje é uma Seleção sem brilho e sem carisma, sem identidade e amorfa. De jogadores que nem são batalhadores, com a faca entre os dentes, nem são virtuoses da bola que teriam a licença poética para desfilar em campo.

Esta Seleção Brasileira é comandada por um técnico sem grife, que é a representação perfeita de uma geração de treinadores medianos. Sob seu comando, estão jogadores pouco conhecidos dos torcedores brasileiros, muitos dos quais terminaram sua formação e construíram suas carreiras longe daqui, praticamente todos não mais do que coadjuvantes em seus times. Bons jogadores, sem dúvida. Dedicados, até onde a fria profissionalização moderna exige (e permite) dedicação. Não mais do que isso. E que produzem um futebol de dar sono. As exceções, Vini Jr., por exemplo, simplesmente não conseguem impor sua qualidade em meio a um futebol não mais do que operário, burocrático. Meio mecânico, até. Quase nada, futebol do Brasil. Um futebol que nem de longe mostra a técnica envolvente do DNA brasileiro, que pouco se impõe, que não encanta, não comove e não traz o torcedor junto. Uma Seleção, enfim, que já fez sorrir, chorar e até despertou a raiva, a irritação a frustração e a tristeza que vêm com a derrota. E que agora, melancolicamente, dá sono. E faz adormecer.