Estelionatários vitimaram dois idosos no município com intervalo de uma semana entre os crimes
Dois casos ocorridos em Vera Cruz, envolvendo idosos, alertam para crimes que são diariamente praticados, mas nem sempre denunciados pelas vítimas. Em 27 de abril, no centro do município, um homem de 86 anos foi abordado por um indivíduo que dizia ter ganhado um prêmio de mais de R$ 1 milhão. Na semana passada, uma mulher de 70 anos, passou pela mesma situação também na região central da cidade.
Em comum, a abordagem: a história do ganhador de um bilhete premiado com dificuldade para retirar o prêmio. Em ambos os casos, a chegada de uma terceira pessoa, que se apresenta como alguém que também acredita na história contada e ainda se prontifica a ajudar a resgatar o prêmio, dá mais veracidade para a narrativa do golpista. O idoso perdeu R$ 4,3 mil, pegou R$ 3 mil que tinha guardado em casa e dirigiu-se à lotérica para sacar o restante, e a idosa, R$ 8 mil, valor integralmente sacado no banco. Ela ainda foi questionada no caixa sobre a finalidade daquele saque, mas instruída pelo dono do bilhete premiado, mentiu.
O golpe do bilhete geralmente é aplicado em pessoas que estejam mais vulneráveis a acreditar em histórias sedutoras, como em idosos, que sentem falta de alguém para conversar e veem na ocasião da abordagem do estelionatário a oportunidade de ganhar dinheiro fácil. “Os estelionatários preparam o ambiente, o cenário, têm, uma narrativa convincente e fazem tudo para tornar sua história crível”, alerta a delegada Lisandra de Castro de Carvalho, titular da DP de Vera Cruz.
A sedução pela narrativa
Foi o que aconteceu com Idalina*, 70 anos, agricultora aposentada. Na tarde de sexta-feira, enquanto se dirigia ao banco para realizar um depósito, foi abordada por um homem que dizia ser do interior. Personagem: o tirador de leite. No primeiro momento, este homem pediu informações sobre onde ficava a Caixa Federal, argumentou ser de fora. Assim que Idalina forneceu-lhe a primeira informação, revelou que tinha consigo um prêmio de loteria e que sua mãezinha o havia instruído a procurar alguém de confiança para ajudar a receber este dinheiro. Neste momento, o segundo golpista se aproximou. Personagem: o caridoso prestativo.
A história foi contada novamente ao caridoso que na hora, muito comovido, se propôs a ajudar. Ligaram supostamente para a Lotérica para confirmar o prêmio e, em seguida, também supostamente, ligaram para a Caixa onde receberam a instrução de que precisariam dar uma garantia em valor antes de sacar o prêmio. “Eu tenho esse valor, vamos na minha casa buscar. Tu tens, Idalina?”, perguntou o caridoso. “Não tenho tudo isso, só uma parte”, respondeu a senhora. “Ah, mas a senhora não consegue pegar um empréstimo do restante?”, devolveu o golpista. O tirador de leite reforçou. “Se eu tenho mesmo R$ 4 milhões para receber, eu dou R$ 100 mil para cada um de vocês”.
Sensibilizada pela história, com vontade de ajudar o tirador de leite a resgatar seu prêmio, e ainda com a garantia de que seu empréstimo retornaria, Idalina concordou em ajudar. Entrou no carro do caridoso prestativo e foram até sua casa para buscar o dinheiro. “Ele voltou com o dinheiro embrulhado numa camiseta”, recorda a idosa. Logo após, a dupla deixou Idalina próximo ao banco onde foi sacar R$ 8 mil, R$ 5 contraídos em um empréstimo. “A pessoa do caixa até me alertou, perguntou se não era golpe, e eu neguei”, afirmou Idalina.
Pegou o dinheiro, encontrou a dupla no carro e entregou ao tirador de leite o valor. No mesmo veículo os três se dirigiram em direção à Caixa Federal, onde supostamente fariam o saque do valor do prêmio. No caminho, passavam a Idalina instruções sobre como proceder para resgatar o dinheiro e entregaram-lhe um envelope dizendo que lá dentro estava o comprovante do prêmio. Pediram que ela pegasse o envelope, fosse até à agencia, retirasse uma senha para atendimento e orientaram para que não abrisse o envelope antes de chegar no caixa. E assim ela fez. Se dirigiu à agência enquanto eles estacionavam o carro.
Foi um golpe
Após 15 ou 20 minutos de espera, em uma conversa com o segurança do banco e estranhando a demora dos homens, Idalina se deu conta de que poderia ter caído em um golpe. Abriu o envelope e teve certeza, estava vazio. Senti as pernas bambas, eu tenho problema de pressão alta, suei muito. “Me senti tão ignorante, me senti mal. Pela forma como fui criada, me senti tão pra baixo. Dava vontade de bater minha cabeça numa pedra”, confessou a vítima, angustiada.
A tristeza de Idalina é maior quando ela pensa em tantos momentos difíceis da vida, como a perda recente do marido e a perda de uma filha. “A gente não é criança mais, tanta coisa que já sofri na vida e não tive aquele pensamento rápido. Eles têm uma coisa que parece que entram na nossa cabeça”, divagou.
O lamento sobre aquele dia foi o esquecimento do celular quando saiu. “Meu telefone ficou em casa, senão teria entrado no banco e ligado para o meu filho”, disse. Mas a questão que mais tem incomodado Idalina tem relação com o alerta que a atendente do banco tentou fazer. “Eu menti para as gurias. Fiquei com uma vergonha que estou até hoje. É isso que me incomoda, a vergonha que eu tô de ter mentido. O dinheiro nem é tanto, mas a vergonha de eu já ter bisneto e nunca ter mentido na vida”, confessa.
Lisandra reforça a importância das características dos estelionatários que, nos dois casos, são parecidas. Segundo as vítimas, a abordagem é feita por um homem magro de aproximadamente 1,7 metro, com barba curta, 50 anos, mal vestido. “Precisamos alertar sobre as características dos estelionatários e pedir, se caso mais alguém tenha sofrido o mesmo golpe, que informe a polícia para nos municiar de mais informações que possam ajudar nas investigações”, frisou a delegada.
*Nome fictício para proteger a identidade da vítima.
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