Tempo do Epa

  • Por
    Carolina Almeida
  • Tempo do Epa

    O saudoso Cinema Villa Thereza

    Publicado em: 08 de novembro de 2024 às 08:26
    CADERNETA REGISTRA FILMES EXIBIDOS A CADA MÊS | GRUPO ARAUTO
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    Era no Salão Brandt que iniciou o cinema, por volta de 1930, com Carlos Werner rodando filme mudo na manivela

    A sétima arte cativa, comove, encanta e não é de hoje, é óbvio. Arrebata, atrai multidões, provoca fenômenos de bilheteria. Mas Barbie e Divertidamente que me perdoem, hoje preciso voltar ao cinema do passado. Igualmente encantador e sem tamanha concorrência de entretenimento para as famílias. Ir ao cinema era “o” programa. E como estamos falando de um tempo passado, “do Epa”, vou lhes contar: era a sensação em Vila Teresa, distrito que deu origem ao município de Vera Cruz.

    Para escrever a coluna de hoje, resgato uma entrevista feita com um saudoso amigo, em 2009, que ajudou a recontar aquela época. O querido Edmundo Keller, o “tio Sona”, já não está neste plano, mas quero pensar que lá do alto está dando risada com este resgate. Era no Salão Brandt, onde hoje fica o Back Supermercado, que iniciou o cinema, por volta de 1930, com Carlos Werner rodando filme mudo na manivela. A magia do cinema, por lá, durou mais tempo, mas acreditem: não foi o único local que sediava um cinema na Vila.

    No Concórdia, clube que pertencia a Fridolino Beilke, e depois, no Salão Kurtz, os filmes também foram reproduzidos e os dois espaços chegaram a funcionar, por certo período, ao mesmo tempo, me contou tio Sona.

    Não temos precisão de datas, não havia registros daquela época, mas quem viveu, lembra com saudade dos sons dos foguetes estourando para anunciar o dia de sessão. Foi o próprio Sona o responsável por operar os equipamentos que rodavam os filmes por vários anos, tanto no Clube Concórdia quanto no Salão Brandt. Ele iniciou neste ofício por volta de 1946, quando retornara do Exército.

    EM MEMÓRIA AO SAUDOSO AMIGO DA FAMÍLIA EDMUNDO KELLER, O “TIO SONA”, QUE EM VIDA COMPARTILHOU AS LEMBRANÇAS DO CINEMA EM VILA TERESA | ARQUIVO ARAUTO

    Ele compartilhou comigo suas lembranças de Baumhardt e Brandão, que traziam os filmes para Vila Teresa e era necessária a utilização de bateria do carro para transmitir os filmes numa época em que não havia luz elétrica. Sona ainda era criança naquela época e destacou que o primeiro filme falado foi exibido no Concórdia, que em 1948 passou a ser Salão Kurtz (hoje fica a Casa Flor). Como havia um equipamento para rodar as cenas e os discos para reproduzir o som, muitas vezes as duas coisas saíam desencontradas.

    Mas o mais engraçado dessa entrevista foi a parte da censura que existia em algumas obras exibidas e era esquecido, eventualmente, de informar a população. Quando tinha uma cena, digamos assim, mais forte, ou um beijo mais demorado, Sona botava a mão na frente do projetor para escurecer a imagem. Imagina quanta vaia ele recebeu.

    Entre os filmes exibidos, relembrou, naquela ocasião, os clássicos como Sissi, várias obras em alemão, Tarzan, Gordo e o Magro e as batalhas do faroeste. Guardo com carinho uma caderneta que Sona me presenteou, onde anotava, mês a mês, o cronograma de filmes exibidos com cálculos que mostravam o faturamento. Os filmes de ação se destacam entre as anotações de 1967 e 68, uma lembrança daqueles saudosos tempos do Cinema de Villa Thereza, como anuncia o cartaz, resgatado para a matéria.