No judaísmo, desde cedo os filhos eram educados a praticar o mandamento de honrar pai e mãe, o que foi conservada depois pelo cristianismo.
No judaísmo, desde cedo os filhos eram educados a praticar o mandamento de honrar pai e mãe, o que foi conservada depois pelo cristianismo.
O quinto mandamento é o único que vem com uma promessa de recompensa, ao afirmar: “Honra teu pai e tua mãe, conforme te ordenou teu Deus, para que os teus dias se prolonguem e tudo corra bem na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Dt 5,16).
Minha mãe foi uma pessoa que teve algumas dificuldades que a fizeram criar uma casca mais grossa durante a vida. Era calada, séria, queria resolver as coisas no grito, reclamava muito, sempre. E isso refletiu na nossa relação entre mãe e filha, que era péssima, na verdade, não havia essa relação, nem diálogo e nem nada. Eram muitos xingamentos, brigas, humilhações. Tudo que eu fazia ela criticava, não apoiava, enfim, nossa convivência era bem ruim.
Até que em março de 2020 essa história mudou. Minha mãe foi internada 12 dias antes do lockdown passando muito mal. Precisava de início de uma transfusão, pois as plaquetas estavam baixas. E isso foi só a ponta do iceberg. Bem, por conta da minha relação ruim com ela, eu poderia muito bem ter tampado meus olhos e ouvidos e ter ignorado a situação dela. Certo? Poderia, mas não fiz.
Assumi as rédeas da situação. Era a MINHA MÃE! Era a mulher que meu deu a VIDA! Era a mulher que trabalhou em 3 empregos para sustentar eu e meus irmãos, era a mulher que nunca foi à missa, mas enquanto fazia almoço rezava e santificava a comida. Como eu poderia não honra-la? Não tínhamos uma relação boa? Não, não tínhamos! Mas era a minha mãe, a pessoa que sangrou por mim.
Então, após a internação começou uma batalha no hospital, em plena pandemia, exames, exames e mais exames. E eu estava ali, tentando amenizar a dor dela, tentando fazê-la ficar bem humorada, tranquila, pois a angústia de não ter um diagnóstico sufocava ela, eu e meus irmãos. Minha família nunca tinha passado por nada disso. Parecia um filme de terror.
Por causa da pandemia, fui demitida. Acredito que tenha sido Deus quem fez isso, porque mesmo eu não querendo, foi a melhor solução, pude dedicar em tempo integral a ela. Foram 3 meses em 2 hospitais.
Eu tenho uma filha, na época com 9 anos, que teve que ir morar na casa da avó paterna.Tive que me abster da maternidade, foi a dor mais profunda do mundo. Mas eu tinha uma missão a seguir.
Com 2 meses de internação descobrimos um câncer em estágio avançado na minha mãe. Perdemos o chão. E agora? O que nos resta? Nos resta agora dar todo amor que eu não dei antes, dar toda a vida por ela, servi-la, amá-la e foi isso que fiz.
Fiz com todo meu amor, fiz porque tinha que ser feito. Agora imaginem vocês se eu ficasse pensando no tanto que minha mãe foi dura comigo, imagina se eu tivesse me preocupado com brigas, o que seria do fim da vida da minha mãe?
Mesmo doente ela ainda reclamava da comida que eu fazia, da casa que eu arrumava, de tudo, nunca estava bom. Sabe oque eu fazia? Acordava no outro dia e FAZIA MELHOR, DAVA MEU AMOR. Fazia a comida mais gostosa ainda, numa limpeza mais limpa ainda. E foi assim por 2 anos.
Mas eu não a abandonei, eu não "descontei", eu só amei, eu só a servi, eu só a honrei. Pedia para Deus que no momento da sua morte que eu estivesse com ela. MAS que eu não A VISSE partir. E Deus em sua delicadeza me atendeu. Eu estava com ela nos seus últimos minutos, num quarto de hospital, bem silencioso, no final do corredor, confessada, ungida pelo nosso sacerdote amigo. Eu virei de lado e tentei descansar um pouco e por 30 minutos eu dormi. Enquanto isso ela se foi, apagando como uma vela.
E quando ela se foi senti como quem cumpre a missão e fica em paz. Faria tudo de novo. Faria por ela, por mim. Faria pela minha filha, para que me visse como exemplo. “Honra teu pai e tua mãe, conforme te ordenou teu Deus, para que os teus dias se prolonguem e tudo corra bem na terra que o Senhor teu Deus te dá”.