Colunista

Moacir Leopoldo Haeser

Eu quero meu bebê

Publicado em: 07 de janeiro de 2025 às 08:30
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Se até o homem pode apresentar manifestações físicas e psicológicas de gravidez - ‘Síndrome de Couvade’ – por que não uma deusa?

A conhecida profissional estava muito feliz, pois finalmente realizava seu sonho. Estava grávida!

Apresentava todos os sintomas físicos e psicológicos de uma gravidez. Tinha dor e sensibilidade nas mamas, cessação da menstruação, enjoos matinais, vômitos e até aumento do abdome.

O teste de farmácia havia confirmado a gravidez.

O exame de ultrassom na renomada clínica visava apenas verificar o desenvolvimento do bebê e seu posicionamento no útero da gestante.

Quando o médico informou-lhe que não havia gravidez, que o útero estava vazio, acreditou tratar-se de falha no aparelho.

Demorou a convencer-se que realmente não estava grávida e passou um período de luto, como se tivesse perdido o bebê que carregava.

A mulher rodeava a clínica. Tal como sua colega, também estava grávida. Apresentava todos os sintomas da gravidez e para ela também foi um choque ao ser informada que seu útero não continha um feto.

Não acreditou.

– Aparelho velho e obsoleto! Só pode estar errado!

Não convencida, ingressou sorrateiramente no berçário do hospital e saiu com seu bebê.

Descoberto o rapto, ainda acalentava seu nenê quando foi presa pela polícia, para felicidade dos pais desesperados.

Gaia ouve o dedilhar das teclas do computador e aguarda pacientemente eu terminar para brincar com ela.

Gaia é uma deusa, sabe? Já contei a história dela aqui em uma outra crônica.

Ela tem seus brinquedos preferidos. Gosta de correr, brincar e disputar os bonecos comigo.

Às vezes até monta em um deles, fazendo o clássico gesto demonstrativo de dominação dos animais entre si.

Certo dia ela passou a ganir baixinho de uma forma que nunca havia feito antes.

Esvaziou sua casinha e nela ingressou com o boneco, onde se aninhou.

A partir dali passou a carregar de lá para cá o boneco, agarrando-o suavemente pelo pescoço.

Na hora de dormir deu um jeito de levá-lo junto, aconchegando-o junto a si. Se o esquecia, ficava a noite choramingando baixinho até que a porta era aberta para ir buscá-lo.

Para facilitar as coisas, compramos outro boneco igual, de forma que em cada ambiente houvesse um dos “filhos”.

O problema então veio em dose dupla. Ficava ganindo, não dormia e não ficava em lugar algum se os “dois filhotes” não estivessem aconchegados com ela.

Apesar da falta de apetite e outros sintomas, foram duas semanas maravilhosas. Era carinhosa conosco e aceitava que ajudássemos a cuidar dos filhotes. Seu comportamento maternal era enternecedor. Deitava os dois a meu lado, para eu cuidar, enquanto ia se alimentar.

Passado seu período de maternidade, Gaia voltou ao comportamento normal. Seu boneco voltou a ser objeto de disputa de cabo de guerra comigo e até vez que outra é montado por ela.

Se até o homem pode apresentar um conjunto de manifestações físicas e psicológicas de caráter involuntário e inconsciente de gravidez – ‘Síndrome de Couvade’ – por que não uma deusa?