Quem esteve na linha de frente precisou lidar com momentos de emoção em meio a necessidade de levar informações à comunidade
Nenhuma faculdade de Jornalismo ensina como lidar com a dor de um desastre natural. Nenhuma sala de aula prepara o profissional para escutar uma mãe contando que precisou ligar para a comadre e se despedir dos filhos. Também não há técnica para conter o choro diante de um álbum de fotos destruído pela lama.
Um ano depois da maior enchente da história da região, a jornalista Carolina Almeida, com mais de duas décadas de experiência em coberturas jornalísticas, ainda carrega as marcas emocionais do que viu e ouviu em Vera Cruz. “É difícil separar. Somos humanos. Por mais que tentemos manter o distanciamento necessário, em situações como essa, a jornalista e a mulher, a mãe, a cidadã, tudo se mistura”, relata Carolina.
Ela foi uma das profissionais do Grupo Arauto que estiveram na linha de frente da cobertura da tragédia que atingiu não apenas municípios, mas lares e corações. Entre as memórias mais marcantes da jornalista está uma visita ao Bairro Bom Jesus, um dos mais afetados em Vera Cruz. A imagem de uma senhora percorrendo os escombros da própria casa, completamente deslocada pela força da água, permanece vívida na mente da repórter. Especialmente porque do pouco que restou, havia a imagem de Nossa Senhora e um quadro de Jesus Cristo, apenas sujo de lama. A fé sempre inabalável.
Outro momento que a tocou foi em um abrigo instalado no Ginásio Segefredo Werner. Ali, famílias encontraram refúgio e compartilharam histórias. “Conversei com uma mãe que se abrigou com familiares no telhado. Ela chegou a ligar para a comadre para pedir que cuidasse das crianças, pois achava que não sobreviveria. Como mãe, eu me vi ali, naquele telhado. A gente tenta manter o profissionalismo, mas é impossível não se emocionar”, relata.
Durante os dias mais críticos, Vera Cruz chegou a ficar isolada por vias terrestres. As rodovias trancadas, o volume da água e os riscos nas estradas do interior criaram um sentimento de angústia mesmo para quem não teve a casa alagada. “Houve um momento em que se falou na possibilidade de faltar água potável. Corremos para comprar água mineral. Não imaginava ver isso em Vera Cruz. Felizmente, a resposta foi rápida, mas o medo existiu, mesmo sem um cenário de destruição como o visto em outras cidades”, conta Carolina.
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