Família Martins residia há quase 40 anos em Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, e vivenciou o impacto da tragédia

Teresinha no momento que chegou às margens da RSC-287 e reencontrou familiares | Foto: Reprodução/Mônica da Cruz
A enchente histórica de maio de 2024 não levou apenas a residência e os bens materiais da família Martins. A água também arrancou memórias, momentos e uma história de quase 40 anos. Moradores de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, Teresinha Graef Martins, 64 anos, o marido George Martins, 67 anos, e o filho Gabriel Martins, 30 anos, passaram por momentos de apreensão, angústia, incerteza e alivio.
A família foi a última a ser retirada da localidade que foi tomada pelas águas do Rio Taquari – não há como precisar o nível de elevação, uma vez que as réguas que existiam no local foram arrancadas pela força da água. Teresinha conta que ela, o marido e filho já haviam enfrentado outras enchentes e, por isso, tinham o desejo de sair do local. Porém, os planos eram para os próximos quatro ou cinco anos. “Mas isso se acelerou de uma forma muito triste, muito catastróficas com as cheias do ano passado”, desabafa.
A primeira vez que a família teve a casa tomada pelas águas foi em 2020. “Minha casa não era uma casa de dois pisos, era uma cada um pouquinho mais alta. Então estragava cerca, o pátio, danos aconteciam. Mas dentro de casa em 2020 foi a primeira vez. Depois em 2023, em setembro, houve uma enchente grande. Nós ficamos dentro de casa e foi um metro de água. O dano foi muito grande, porque não se esperava uma enchente daquela dimensão. A gente ficou na água, passamos frio”, relembra. Em novembro do mesmo ano, após novos alertas, Teresinha ressalta que a família se preparou e ergueu ainda mais os móveis e bens pessoais. Porém, mais uma vez foram atingidos. A água invadiu e chegou a 1,15 metros dentro da casa.

George ao lado de Dirceu Becker, pescador que auxiliou na organização dos resgates, e da cunhada Daniela Graef | Foto: Reprodução/Mônica da Cruz
“Então a gente já vinha para um processo de perdas bem significativas. Em setembro, em novembro. E em maio [de 2024], nós elevamos as coisas dentro de casa um pouquinho a mais do que a outra vez, ainda do que em novembro, e ficaríamos em casa”, salienta. Entretanto, a advogada sugeriu que os três fossem para a casa da sogra, já que o local tinha dois pisos e eles poderiam ficar mais seguros. Após organizarem tudo, pegarem alguns bens pessoais, documentos e erguerem móveis e eletrodomésticos, o trio seguiu para a residência que os abrigaria até o fim de uma nova enchente. Eles só não imaginavam tudo que iria ocorrer depois daquele 30 de abril.
“Quarta ou quinta de tarde [1º e 2 de maio] nós estávamos bem. Mas até esse momento, não tinha ainda a dimensão”, destaca. Para Teresinha, ela e a família ficariam na casa até que a água começasse a baixar. A expectativa dos moradores de Vila Mariante é que isso ocorresse entre sexta-feira e o sábado, 3 e 4 de maio. Mas a água seguiu subindo e para se proteger os integrantes da família Martins tiveram que subir para uma estrutura mais alta, uma espécie de sótão. “Quando a gente subiu no telhado, a gente teve a dimensão. Nós olhamos em direção a nossa casa e eu disse para o meu marido ‘nós não temos mais nada, nossa vida é daqui para frente’. Então acho que o processo de luto começou lá”, afirma.
O resgate de Teresinha, George e Gabriel ocorreu na sexta-feira, 3 de maio, pela manhã e isso se tornaria um dos momentos mais marcantes para a advogada. “O Bira chegou e aí eu senti medo pela primeira vez, porque eu tenho um pouco de pânico de embarcação, mas a gente sentiu muita confiança nele. E ele foi de muita coragem enfrentar o que ele enfrentou. Então a gente agradece a ele o o outro rapaz resto da vida”, afirma. Para ela, o processo foi de muita dor, muita dificuldade e também é marcado pela saudade, mesmo um ano após os acontecimentos. Para a moradora de Venâncio Aires, a situação foi amenizada pelo apoio e amparo dos familiares, amigos e dos voluntários que não mediram esforços para auxiliar em todas as situações. “Mas eu vou dizer que nós que passamos por essa situação de extremo perigo, é que a gente não precisa de tantos bens materiais, a gente consegue viver com menos. E passa a valorizar muito mais cada momento, as pessoas.”
Ficou interessado e quer saber mais? Esse é um dos pontos abordados no podcast que o Grupo Arauto produziu sobre o primeiro anos das enchentes em Venâncio Aires. Ouça:
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