Se você já precisou ficar longe do seu filho por um período maior que um dia, vai me entender. Espero que tenha sido para você como foi para mim: uma oportunidade de crescimento.
Pela primeira vez, em quase 10 anos, fiquei mais de um dia e uma noite longe da minha filha. Demorou, você deve pensar. Mas a verdade é que nunca havia sido necessário. Nossas viagens, via de regra, são em família, para aproveitar as férias. Foi uma experiência interessante, para mim e para ela. Penso que para o meu marido, também.
Ainda que ela já seja grande e tenha todo o entendimento, fizemos uso de todas as dicas para minimizar qualquer sentimento ruim. Falar a verdade e quantos dias eu ficaria longe, sem nos vermos, explicar as razões da viagem, controlar a ansiedade e ter a segurança de que tudo vai ficar bem, despedir-se com alegria e sem momentos dramáticos, não sair de fininho, sem que a criança veja. Ah, e também prometer um presentinho, sim, fiz isso, ainda que não seja recomendado.
Aquele abraço apertado é tudo que precisamos (na partida e no retorno).
Confesso que foi tranquilo. Senti saudade? Sim, claro. Mas um sentimento bom, ainda mais contando com o auxílio da tecnologia para manter a comunicação em dia, com ela sempre relatando como havia passado e os últimos acontecimentos. Sem angústias, precisamos ser práticos.
Entendi quando dizem que o adulto (mãe ou pai) sofre mais a ausência do que a criança, que fica entretida na sua rotina. Pensei que sentiria um vazio, mas ele foi preenchido por muitas atividades que precisavam ser cumpridas e pela certeza de que ela estava bem.
Falarei por mim. Eu tenho a estranha mania (para não dizer defeito) de facilitar a vida dela. Aquela coisa de deixar tudo pronto, de organizar as rotinas, de otimizar o tempo. Aprendi, vendo de longe, que a pequena – já nem tão pequena assim – se obriga a fazer e, o melhor, faz sem reclamar.
Rica oportunidade de crescimento pessoal. O pai, muito mais objetivo do que eu, estimulou sua autonomia, otimizou a rotina e não fez por ela o que ela podia fazer. Tudo isso com alegria, paciência e amor.
De atividade diferente, eu havia pedido que molhasse minhas plantinhas, o que ela também fez e fazia questão de contar diariamente.
De que forma o comportamento dela mudou quando eu estive longe? Certamente a maior mudança está ligada a questões de autonomia. Eu estava fazendo mais por ela do que ela precisa. Por mais difícil que seja (e é) passei a deixá-la realizar as atividades ao invés de fazer por ela. Errando ou não, fazendo do jeito que eu faria ou não, demorando ou não.
O mais curioso, confesso, é que eu sabia disso. Não foi exatamente uma novidade para mim.
Naturalmente as crianças apresentarão comportamentos distintos quando estiverem em ambientes diferentes, com pessoas diferentes. E quando olho para ela nestes lugares, longe de mim, de nós, sinto orgulho.
Desta vez fui eu. Mas logo ali na frente pode ser ela a viajar por mais dias e talvez eu sinta diferente. Ah, tenho certeza que será diferente. Mas isso é outro capítulo, não vamos antecipar os fatos e nem sofrer por antecipação. Esta será outra história.
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