Nesse último mês, em torno de 15 casos de furtos foram registrados pela polícia civil no Bairro Universitário
Dezenas de casas de aluguel e apartamentos rodeiam a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A maioria das pensões são somente para moças. De acordo com uma pesquisa realizada em 2012 pela Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional, da própria Unisc, as mulheres já eram maioria dentro da instuição, somando 61,7% de todos os alunos. Diversas delas vieram de outras cidades e encontraram, em Santa Cruz, um novo lar. O fato é que está difícil voltar para casa, com os números alarmantes da violência próxima ao campus da universidade. Segundo dados da Polícia Civil, em torno de 15 furtos foram registrados, no último mês, no Bairro Universitário. Diante disso, um grupo de 11 meninas tiveram a ideia de criar um grupo no WhatsApp para voltar juntas, ao final da noite, para suas casas.
As estudantes criaram o grupo no dia 20 de outubro e, desde então, o utilizam para organizarem a volta para casa. Todas elas moram nas redondezas da universidade e preferem não ser identificadas. "Estamos, realmente, com muito medo", diz D. M., 23 anos, uma das participantes da iniciativa. Estudante do 6º semestre de Nutrição, ela conta que a ideia surgiu em conjunto, diante dos diversos casos de violência e furtos verificados na região. "Avisamos no grupo quando vamos ir para a Unisc e fizemos o mesmo com a volta", diz. O motivo do cuidado até mesmo na ida, antes das 19h, é porque muitas das ocorrências policiais são registradas em plena luz do dia. Na tarde desta quarta-feira (2), por exemplo, uma mulher foi assaltada ao sair da universidade às 14h.
Palavra da Polícia Civil
De acordo com a 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, o máximo está sendo realizado, diante da quantidade de policiais disponíveis. O policiamento está sendo efetuado em horários alternados, com viatura discreta. Segundo a 1º DP, os policiais estão conscientes da quantidade de casos e fazendo o monitoramento na região. Em quase todas as ocorrências, o assalto acontece da mesma forma: um homem aborda a vítima, enquanto outro o espera em uma motocicleta. Dos 15 casos do último mês, sete deles foram registrados pela 1ª DP. Os outros foram para a Delegacia da Mulher e da Criança e do Adolescente. Todos os casos ocorreram com mulheres, muitas menores de idade. Segundo eles, as ruas onde os assaltos mais acontecem são Boa Esperança, Dona Flora, Avenida Independência, Augusto Splengler e Flores da Cunha.
Confira depoimentos das participantes do grupo:
S. R., 21 anos, aluna de Psicologia, 10º semestre.
Além do grupo das meninas da pensão, estou em outro também, que se chama Vamos Juntas. O nosso maior medo é porque a maioria dos assaltos aconteceram em nossa rua, em plena luz do dia. Criamos o grupo para nuncar irmos sozinhas. É mais seguro. É bem complicado sair de casa dessa forma. Estamos a uma quadra da universidade e pensávamos que, por estarmos tão próximas, estaríamos seguras. Mas não estamos. As ocorrências acontecem na porta de casa. Quando eu cheguei aqui, era um bairro seguro.
C. K., 20 anos, aluna de Direito, 1º semestre.
Eu acho que sou uma das poucas meninas que antes não tinha medo de andar sozinha na rua no horário da tarde. Mas, a partir do momento que começou essa onda de assaltos na região, estou sempre atenta. Aqui perto temos uma parada de ônibus, onde geralmente ficamos sozinhas. Não só nós, mas alunos e pessoas que precisam ir até algum lugar, um lugar muito bom para assalto. E se notares a maioria dos assaltos são mulheres. Pelas ocorrências é possível perceber que é mais seguro sair perto do horário do turno de aula da noite do que sair à tarde sozinha. Afinal, de noite há mais pessoas na rua, pois os alunos estão chegando ou saindo. O que falta na nossa região do universitário é o policiamento.
L. T., 23 anos, aluna de Gastronomia, 4º semestre.
Quase todos os assaltos geram medo em nós. Faz um ano que moro aqui e nunca tinha acontecido tantos assaltos assim. Até me mudei para cá por ser perto da Unisc e pelo fato de que o bairro era tranquilo, sem assaltos…. Eu estudo de tarde e muitas ocorrências acontecem nesse horário. Eu já saio de casa com medo que possa acontecer alguma coisa.
J. M.,17 anos, aluna de Química/Licenciatura, 2º semestre.
Todos os casos que aconteceram aqui causam medo. O medo maior, no entanto, nem é de perder as coisas, mas sim de ficarmos machucadas. Na maioria dos casos, o assalto é com faca. Eu estudo no turno da noite e sempre estamos saindo juntas para a aula. Mas, para voltar, é mais complicado. Na maioria das vezes, os horários das aulas não são iguais. Precisamos de mais segurança nas ruas.
M. L., 19 anos, aluna de Química Industrial, 4º semestre.
Quando começou essa onda de assaltos, começamos a ficar assustadas, pois saímos toda hora de casa para ir à Unisc, no mercado ou na padaria. Esses assaltos quase sempre ocorrem de dia, o que me deixa com mais medo. Esses assaltantes quando não estão de motos, estão sempre com um arma ou uma faca. Fizemos o grupo para irmos juntas e voltarmos juntas. Não estamos seguras.
S. S., 19 anos, aluna de Fisioterapia, 4º semestre.
Criamos o grupo devido ao aumento das ocorrências policiais nesta região. Todas estão com medo. A menina que divide o quarto comigo foi assaltada. Ela contou que era um jovem de 16 anos. Tentamos ir todas juntas para a Unisc. Na volta, às vezes, os horários não batem. Seria bom se aumentasse o policiamento por aqui, pois a única coisa que estamos levando junto é o celular, mas os assaltantes não querem saber o que temos para eles levar. Temos medo deles fazerem algo a mais. Eles andam armados.
JÁ ANDOU SOZINHA PELA RUA E SE SENTIU EM SITUAÇÃO DE RISCO?
A MENINA QUE ESTÁ AO SEU LADO TAMBÉM.
Essa frase é utilizada pelo projeto Vamos juntas?, criado em junho de 2015 pela jornalista Babi Souza. Conheça o projeto:
Foi em uma volta pra casa à noite, cheia de medo e insegurança que nasceu o movimento Vamos juntas?. No meio de uma praça escura em Porto Alegre, a jornalista Babi Souza teve uma inspiração e pensou que se as mulheres se unissem nas ruas se sentiriam mais seguras. Afinal, só as mulheres entendem o medo que as outras mulheres sentem na rua.
De uma postagem despretensiosa em seu perfil no Facebook divulgando a ideia que teve, a uma página que beira as 300 mil curtidas, foram meses de trabalho intenso e histórias que não a deixaram desistir de fazer o movimento crescer e atingir mais e mais meninas. Em 24 horas, a página atingiu 5 mil curtidas. Em 48 horas, 10 mil curtidas. Em 6 dias, 50 mil curtidas. Em 2 semanas e meia 100 mil curtidas. Em poucos dias o movimento deixou de falar apenas sobre como é importante as mulheres “irem juntas” e passou a falar sobre a importância de “estarmos juntas” e de colocarmos a sororidade (irmandade entre mulheres) em prática.
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