Aos 74 anos, músico continua ensinando jovens de todo o Vale do Rio Pardo
"Quem inventou a gaita deveria ter sido um apaixonado e por isso que o gaiteiro toca com ela junto ao peito, misturando o compasso do coração às batidas de um instrumento". A frase estampada na parede da casa de Lydio José Frantz resume sua história. A música, seu grande amor, chegou cedo em sua vida. Aos 74 anos, o rio-pardense que escolheu Santa Cruz do Sul para construir família ainda lembra de sua primeira gaita: verdinha, trazida pelo pai diretamente de Bento Gonçalves.
Antes mesmo de conseguir ter seu primeiro acordeon, Lydio já lutava pelo aprendizado. Em Rincão Del Rey, interior de Rio Pardo, caminhava quatro quilômetros até a casa da professora Lianne Eidt Rovedder, que muito lhe ensinou sobre música, mas sobretudo sobre generosidade. "Eu estudava com o acordeon dela, que ela me emprestava", relembra, em tom alegre. Mais tarde, teve ainda os ensinamentos de Edemar Bender. "O Bendinha e a Liane me ensinaram o abc da música", destaca.
Com 10 anos, mesma idade em que ganhou a primeira gaita, veio morar em Santa Cruz do Sul. Com memórias de cada professor que passou em sua vida, Lydio tornou-se um. Um dos melhores, diga-se de passagem. Atualmente, ensina jovens de todo o Vale do Rio Pardo. A pandemia o fez pausar, mas não interromper a atividade. "Ser professor representa tudo. É a minha qualidade de vida. Imagina se agora, na velhice, eu não tivesse nada para fazer?", questiona-se.
Porém, quem o conhece sabe. Ele sempre tem o que transmitir, o que ensinar. Aposentado desde 2010, faz questão de continuar expressando aos mais novos tudo o que aprendeu. "Eu adoro dar aula.Trabalhei muito com pedagogas, quando estava na Secretaria de Educação e Cultura. Naquela época, entendi como se trata um aluno, uma criança. Aprendi olhando. Quando você der aula para uma criança tem que ser diferente do que para um adulto. Para criança, você precisa virar criança. Não pode ser ranzinza", explica.
E engana-se quem pensa que Lydio Frantz, após tanto reconhecimento e momentos marcantes na carreira, considera-se um expert no assunto. Embora seja referência para a música na região, o professor tem outra coisa a ensinar: "A gente não sabe tudo. Sempre podemos saber mais. Quanto mais estudamos, mais percebemos o quanto falta". Diferente do início de sua trajetória, quando tudo era mais difícil, hoje se atualiza pela internet e faz questão de dedicar quatro a cinco horas do dia para deixar o mestre de lado e virar estudante.
Atitudes que inspiram as dezenas de alunos espalhados pela região. Lydio Frantz, casado com Terezinha e pai de quatro filhos, percorre sua trajetória enquanto deixa um legado. O artista, autor de composições, ídolo de Chiquinho do Acordeon e que já dividiu o palco com Dominguinhos, faz questão de recordar o passado e cada momento lindo que a música o fez e o faz viver. Por isso, empenha-se para continuar ajudando jovens que sonham em produzir o som do acordeon, assim como ele, aos 10 anos, com sua gaita verdinha.