Localizado à margem da RSC-287, Salão Ullrich marcou época e gerações, reunindo um grande público a cada evento
Era sucesso absoluto. O Salão Ullrich de Pinheiral marcou época, gerações e deixou muita saudade. Os ambientes, os shows, as músicas e o público – que vinha de toda a região – faziam cada festa ser única e especial. E tudo isso, fruto de um sonho, que começou de forma simples mas que, com a ajuda de muitas mãos, se tornou real e fez cada momento se tornar inesquecível.
Filho de agricultores, Valdair Ullrich é a peça central dessa história. Além de ser a terceira geração da família a assumir o salão centenário, foi ele quem fez acontecer. Aos 13 anos, assumiu o salão que, de uma pequena e antiga casa comercial na beira da RSC-287, se transformou em um espaço que comportava mais de cinco mil pessoas. “Eu tinha sonhos. Desde pequeno – quando já aconteciam eventos menores aqui – eu visualizava um salão aqui na área. Teve um dia que eu estava sozinho, cuidando do armazém, e apareceu um dos maiores empresários de bandas do Sul. Conversei com ele e acabei contratando 12 bandas para o ano, fazendo dois bailes por mês. Trouxe figuras como João Roberto, Impacto e Itamone que era sucesso na época. A partir disso, explodiu, não tinha mais onde colocar gente no salão. E foi aí também que eu decidi colocar o meu sonho em prática”, relembrou.
Sem dinheiro algum, mas com muita vontade de fazer acontecer, Valdair – incentivado pela esposa – utilizou o conhecimento que tinha em casas noturnas e desenhou em uma cartolina, uma nova estrutura para o salão. “Fiquei um mês desenvolvendo o projeto. Depois, peguei a cartolina e levei a uma empresa de materiais de construção, onde um vizinho meu trabalhava e apresentei para ele o meu sonho. Eu não tinha nenhum centavo, mas garanti a eles que em um ano eu pagava tudo. Eles então aceitaram financiar”, conta. Além do material, Valdoir também contou com a ajuda de muitas pessoas para transformar o espaço. “Foram meses trabalhando e sou grato a cada uma dessas pessoas que me ajudaram a levantar o salão e também depois nas festas. Construímos a cabana, quiosque, espaço ao ar livre, Ulla-Ulla, pista dois e a garagem. As pessoas me chamavam de louco, que não ia ter público para tudo isso, mas eu não ligava, seguia acreditando. Inauguramos o novo Salão Ullrich de 2000 para 2001, com uma festa de réveillon”, relembra.
Desde então, o sucesso foi absoluto. A cada 15 dias, os bailes reuniam entre quatro a seis mil pessoas, com ônibus lotados que vinham de toda a região dos Vales. E no palco? Os sucessos do momento, entre bandas, som mecânico, DJ’s e artistas nacionais. “O que era sucesso, eu trazia e bancava. Não tinha medo. Por aqui, passaram Scorpions, Áudio Som, Frequência Máxima, DJ Malboro, Tekila Baby, Comunidade Hip Hop, Luka, Kelly Key, Latino, Marciano, dentre tantos outros. Também tínhamos os sorteios, foram mais de 20 carros e mais de 40 motos distribuídas nas festas”, destaca o proprietário.
“It’s My Life”: o hit que se tornou o hino e um possível retorno do Salão Ullrich
Além dos inúmeros cartazes e convites que eram distribuídos para divulgar os eventos, outro ponto que chamava bastante atenção e se tornou uma marca do Salão Ullrich foi o hit “It’s My Life”, que embalava os anúncios das festa. “Eu trabalhava de segunda até sábado em função dos bailes, mas eu sempre fiz o que eu gostava. Ia para Lajeado gravar o comercial e a escolha da música foi ideia minha, era um som que eu curtia demais”, recorda.
E mesmo com uma trajetória repleta de bons frutos, houveram momentos dificuldade para os proprietários do salão. “Tivemos que lidar com muitas coisas ruins, mas sempre soubemos dar a volta por cima”, diz Valdoir, que rememora a última festa realizada no estabelecimento – em parceria com o dono do Salão Fengler – e ressalta ainda o desejo das pessoas de que o Ullrich volte a realizar festas. “Pedem muito a volta do Ullrich, isso é uma coisa impressionante. Eu tenho vontade de voltar na noite, porque está em mim, está no sangue, eu amo. E o que eu fazia, fazia bem feito. Eu era detalhista e as coisas tinham que funcionar. Então eu tenho vontade sim, mas só se eu achasse um lugar bom e grande dentro de Santa Cruz, pois hoje onde era o Ullrich, estão instaladas fábricas. Seria na mesma mentalidade do salão antigo, mas com novas ideias, até porque agora é muito mais fácil fazer festas, pelas tecnologias disponíveis”, analisa.
“Sou uma pessoa muito feliz dentro daquilo que eu fui e fiz”, afirma Valdair
Focado em oferecer o melhor para os filhos Bárbara e Gustavo, após a parada dos eventos no salão, o proprietário do Ullrich abriu uma distribuidora – na qual atuou por 12 anos -. Hoje, aposentado, vive uma vida simples e tranquila ao lado da esposa, joga futebol duas vezes na semana e aprecia um bom churrasco.
Para ele, a trajetória construída desde o momento em que decidiu tirar o sonho da cartolina até a última música que tocou no salão, é regada de muito amor, alegrias e gratidão. “Sou uma pessoa muito feliz dentro daquilo que eu fui e fiz, acreditando e sem medo. Só tenho a agradecer a todos que ajudaram, vieram nos bailes e são parte dessa história, fazendo com que o Ullrich se tornasse um ponto de referência pra todo jovem da nossa era. As melhores músicas e as melhores festas, nós tivemos”, complementa Valdair.