O escritor e geólogo José Alberto Wenzel resgata em seu novo livro a história de uma das mais notáveis casas de saúde da região. Vida Nova: a história do Sanatório Kaempf (Editora Gazeta, 248 páginas), seria lançado na 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, que teve a programação cancelada. O lançamento deve ocorrer na primeira semana de junho.
No seu 15º livro publicado, o membro da Academia Rio-Grandense de Letras desvenda alguns dos segredos que cercam o Kaempf. O interesse pelo local surgiu entre 1997 e 1999, quando exerceu a função de secretário de Saúde de Santa Cruz do Sul. Instigado pela centenária história do local, passou a ler sobre os sanatórios. O livro Migalha Inteira (2007) é ambientado em um local inspirado pelas instalações do sanatório.
“O tema nunca me abandonou, pois passei a associar crescentemente a atividade do sanatório com a natureza, até porque o ‘fio’ que perpassa as atividades do Sanatório, alinhadas com a hidroterapia, passa pela vegetação natural, água pura, sol e exercício ao ar livre, como caminhadas pelas trilhas”, relata.
Mais tarde, Wenzel começou a ouvir pessoas que atuaram na gestão, vizinhos do local, além de pessoas que passaram por lá, seus familiares e amigos. O descendente do fundador, o médico alemão Eduard Kampf, Ivo Kaempf, colaborou participando de diversas conversas com o escritor. Também foram fontes importantes os médicos Paulo Oleksiuk e Lídio Rauber, e atendentes como Paulo Thessing.
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Vera e José Wenzel conversam com Paulo Oleksiuk | Foto: Divulgação
“Concomitantemente passei a buscar a documentação que desse sustentação a um possível livro. E a partir de 2023, intensifiquei as pesquisas, já no firme intuito por escrever um livro, que resgatasse a história do Sanatório”, explica.
A narrativa é dividida em três capítulos representando as principais fases do local. O primeiro é o da hidroterapia, de 1889 a 1918, que relata a instalação e desenvolvimento até a morte do fundador. O segundo, de 1919 a 1969, retrata a expansão e o período do Hospital Geral, quando muitos médicos da cidade atendiam na estrutura.
No entanto, a fase da Clínica Psiquiátrica, de 1970 a 1999, é a que permanece mais viva na memória da comunidade e, principalmente, das pessoas atendidas e seus familiares. “Esta fase se constitui na mais polêmica, pelo tipo de tratamento. Cabe realçar que não há uma ruptura, propriamente dita, para que uma nova fase fosse iniciada, mas o adensamento dos tipos de serviços ofertados é que caracterizam as transições”, esclarece José Alberto Wenzel. Após apresentar as fases, o livro aborda também as mudanças geradas pela Reforma Psiquiátrica.
Outro diferencial do livro, é que Wenzel não deixa de abordar os mistérios envolvendo Kaempf. Além dos registros históricos e evidências documentadas, dá espaço ao lendário do local nos espaços denominados “Contam que”. “Assim encontram-se curiosidades, que permitem tornar o texto mais leve, pois o assunto é por si sério e respeitoso, pois fala da vida, entre dores e confortos de milhares de pessoas”, completa.
Legado do Dr. Eduard
Fundado em 15 de novembro de 1879, o Sanatório Vida Nova encerrou as atividades em 1999. Após um período funcionando como pousada, em 2018 as instalações foram vendidas à Faculdade Dom Alberto.
De acordo com Wenzel, mais de 100 mil pessoas passaram pelo sanatório nos 109 anos de sua existência. O estabelecimento recebia principalmente pessoas de Santa Cruz do Sul e municípios vizinhos, mas também teve pacientes de todo o Rio Grande do Sul, de diversos estados brasileiros e até de fora do país.
“O Sanatório, além de seu pioneirismo, se constituiu num referencial no atendimento à saúde. Pessoas acometidas com as mais diferentes doenças e dores buscavam atendimento, ainda que na reta final da existência do Sanatório, tenha preponderado o atendimento às pessoas em sofrimento mental. As mais variadas doenças como reumatismo e problemas digestivos eram tratados ali.”
Trecho
No início da obra, o escritor aborda a família do médico alemão Eduard Kaempf e relata seu noivado e posterior casamento. Confira um trecho:
“Impressiona o romance vivido por Eduard e Mina Hedwig. Ele, já noivo, partira para o Brasil. Sua noiva, viria para cá depois, vindo os dois a se casarem no dia 4 de maio de 1884, em Santa Cruz. Este episódio mereceria uma narrativa especial. Imaginemos o sentimento dos dois ao se separarem. Cheios de sonhos devem ter relutado na tomada da decisão conjunta. Quantas cartas devem ter trocado? Que planos fizeram? O certo é que passaram a constituir família e juntos implantaram a obra do Sanatório”.
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