Cultura e Entretenimento

A menina que brincava de escrever

Publicado em: 11 de agosto de 2016 às 21:50 Atualizado em: 19 de fevereiro de 2024 às 09:32
  • Por
    Cátia Kist
  • Fonte
    ArautoFM
  • Foto: PP Fotografias
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    Com 23 anos, Angelita Borges é professora e escritora, como sempre quis

    Tudo começou aos quatro anos, quando com livros sobre a Turma da Mônica e o Ursinho Puff, Angelita Borges aprendia suas primeiras histórias. A santa-cruzense aprendeu a ler e a escrever com sua avó e quando entrou na pré-escola, considerou tudo muito mais fácil. A pequena ajudava, inclusive, os coleguinhas quando a professora estava atendendo outro. Assim, ao redor de classes e de um quadro negro, que Angelita descobriu que a escola era o seu lugar. Hoje, com 23 anos, ela é professora de inglês e publica seu segundo livro.

    Aos oito anos, ela escreveu o seu primeiro livro. Eram cerca de oito páginas, com direito a ilustrações sobre os dois animais personagens. Com 13 anos, decidiu que seria escritora. Lia Sherlock Holmes e pensava: "Se o Doyle consegue, eu também consigo". Foi assim que criou seu primeiro detetive que lhe rendeu seis histórias, nunca publicadas. Porém, ela ainda guarda, com carinho, os rascunhos daquela ideia. Nessa idade também, Angelita descobriu a paixão pelo inglês. Antes mesmo de procurar ensino sobre a língua estrangeira em escolas, ela já traduzia as letras de suas músicas favoritas. Quase todas do U2.  Em 2010, com 17 anos, ela participou de um concurso literário. Ganhou nas categorias conto e poesia e foi convidada a fazer parte de um livro.

    Mas, no começo, Angelita tentou outras coisas. Seu gosto pela escrita a fez iniciar o curso de Jornalismo na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Mesmo na faculdade, aprendendo a escrever notícias, Angelita percebia que a paixão por todos os tipos de escrita e o amor por ensinar, era ainda mais forte. Com 19 anos, foi para os Estados Unidos, estudar inglês em uma escola para estrangeiros. Voltou e começou a dar aulas de inglês. Além disso, decidiu que deveria estudar Pedagogia, em 2014. E neste ano, iniciou o curso de Letras, ambas no Centro Universitário Internacional (Uninter).

    Foi com 19 anos também que Angelita percebeu que ninguém lia o que ela escrevia. “Como eu vou ser escritora se ninguém lê o que eu escrevo?”, se questionava. Foi assim que surgiu o blog Stella Devonne. Lá, ela escreveu sobre uma prostituta que se aventurava pelas ruas de Paris. Angelita, através do seu facebook, chamava os leitores e os convidada para acompanhar a construção da história. Além disso, eles lhe passavam suas opiniões e a direção que as coisas aconteciam na vida de Stella, muitas vezes, foram definidas por eles. Essa história virou livro e muitas outras pessoas puderam conhecê-la também. Em 2013 participou do livro Nem Te Conto II e, em 2014, do Nem Te Conto III, organizados por Romar Beling e Rudinei Kopp, com a participação do escritor chileno Antonio Skármeta.

     

    Agora Já Contei

    Depois de uma trajetória de muitas descobertas e ainda mais certeza pelo gosto de escrever e ensinar, Angelita Borges lança mais um livro, chamado Agora Já Contei. Ele é resultado de outro blog, onde ela escreve contos. Os 50 principais contos foram selecionados para o livro e falam sobre cotidiano e experiências. “Quem já andou de avião, provavelmente, passou por algo parecido com o que acontece em A janelinha”, destaca. Os contos foram escritos de 2013 a 2016. A capa é do publicitário Bruno Almeida, o prefácio é do professor de literatura Dilso J. dos Santos, a apresentação é da jornalista Andressa Bandeira e a o livro foi publicado pelo Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação da América Latina. O lançamento ocorre no dia 20 de agosto, das 16h às 18h, no Café Barbera em Santa Cruz do Sul.

     

    Leia um dos contos:

    A janelinha (páginas 11-12)

    A poltrona era confortável, mas a janelinha, pequena demais. Tinha pessoas desconhecidas por todos os lados, que conversam como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Talvez até fosse mesmo, mas não para ela. Nem para o seu colar de cruz, que já quase desaparecera em meio aos dedinhos finos. Os olhos arregalados observavam cada palavra de negócios ou de férias que volta e meia escapavam por entre as poltronas, atrevidas que só. As mãos suadas tentavam acalmar os dedos tremeliquentes. O estômago se encolhia, e no vórtex por ele criado, ia engolindo os demais órgãos. Acho que os pulmões já eram. Lembrava de alguém lhe dizendo: "parece uma montanha-russa, relaxa". Mas ela sempre odiou montanhas-russas. E quando aquilo tudo começou a fazer barulho e a se movimentar lentamente pela pista, arrependeu-se em cada nervo de seu pequenino corpo (quase tão pequeno quanto a própria janelinha). Gostaria de parar tudo e sair correndo. E daí que fosse atropelada por outro gigante? Então veio o martírio. A subida a deixou tonta, enjoada, chorosa. Por que mesmo tinha escolhido aquela poltrona? Um alívio lhe desceu pela espinha: ao menos, a janelinha era pequena.