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Afinal, de onde vem tamanha chuva? Meteorologista explica

Publicado em: 07 de maio de 2024 às 11:35 Atualizado em: 07 de maio de 2024 às 13:49
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    Portal Arauto
  • Foto: Guilherme Bender/Jornal Arauto
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    A geração passada talvez tivesse um ou dois relatos como os recentemente vividos pelo Rio Grande do Sul para contar ao longo de décadas de vida. A geração de agora tem pelo menos três em menos de um ano. As chuvas que assolaram o Vale do Taquari em setembro e novembro voltaram ainda mais fortes neste início de maio, agora em todo o território gaúcho.

    Frente fria

    O El Niño ainda persiste e não deixou o Brasil. O alto volume de chuva no sul do país é justificado por este fenômeno, mas os desastres recentes foram condicionados por uma série de fatores. É isto que explica o meteorologista e engenheiro agronômo santa-cruzense, Marcelino Hoppe. “Primeiro, uma bolsa de ar quente no centro-oeste começou a descer em direção ao Rio Grande do Sul. A umidade da Floresta Amazônica, que se desloca pela Cordilheira dos Andes, chega ao estado. A umidade se torna ainda maior se considerarmos as altas temperaturas do Oceano Atlântico. Uma frente fria sobe do Uruguai e gera esta instabilidade, gera a precipitação”, salientou Hoppe. “Geralmente, a frente fria empurra o ar quente em direção ao norte do país e leva chuva ao sudeste, mas o ar quente que desceu do centro-oeste deixou a instabilidade concentrada aqui, o que gerou estes níveis de chuva”.

    Histórico

    1941 foi lembrada por oito décadas como a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Não é mais. O que veio dos céus em 2024 superou qualquer barreira antes vista no estado. “Em 1941, tivemos áreas que choveu 800 milímetros em dois meses. Metade disso foi visto em quatro dias em alguns lugares”, relata Hoppe.
    Cenas vista em Sinimbu, por exemplo, são consequência de uma grande quantia de chuva em um período muito curto de tempo. “Em Santa Cruz do Sul, no ano de 2015, choveu cerca de 110 milímetros em 60 minutos. Isso é um absurdo. Algo semelhante e até pior deve ter acontecido lá”.
    No Vale do Taquari, as consequências são ainda maiores pela forma do rio. “O Rio Taquari possui vales mais fechados, ao contrário do Jacuí. É muito mais fácil transbordar por lá”, explicou o meteorologista.

    Aquecimento global

    Os recentes desastres têm uma possível e provável consequência: o efeito estufa e o aquecimento global. Hoppe explica que a percepção de tempos ciclícos no planeta Terra não está errada. “Há períodos de 10 em 10 anos que faz mais calor ou mais frio. Períodos ainda maiores, de 1000 anos, que as temperaturas se acentuam ainda mais. O problema  é: tudo indica que não estamos num ciclo quente. Mesmo assim, as temperaturas estão acima da média”.

    Geralmente, chuvas de 100 milímetros ocorrem a cada dois anos. Hoje, isto se repete mais de uma vez a cada ano. Nesta enchente, aconteceu três vezes, tudo no mesmo dia. “No Rio Grande do Sul, a pluviosidade sempre foi equilibrada entre as estações. Hoje, chove mais nas estações mais quentes e menos nas mais frias. Está virando um clima de cerrado, do centro-oeste. Uma savana. Chove menos dias, mas quando acontece, chove muito”, alertou. “As temperaturas médias têm subido, as noites e manhãs se tornam mais quentes. As máximas não quebram recordes, mas sim as mínimas”.