Os descendentes de imigrantes têm muitas histórias que foram passadas através das gerações, em diários, livros, anotações diversas
FERIADÃO, e tempo de festa nas colônias da Província de São Pedro. O Dia do Colono e do Motorista, também, comemorado ontem, mas extensivo até o final de semana, é uma data mais do que especial para esses trabalhadores, um produz e outro transporta. O produtor rural, especialmente, que não tem dia de folga, de repouso remunerado, 13º salário e todos aqueles benefícios sociais e trabalhistas que os trabalhadores urbanos têm. Até mesmo no seu dia não pode se descuidar das tarefas básicas da sua propriedade. Tudo tem sua hora para ser feito. Essa é a vida do ruralista, uma rotina permanente e incansável, porque se parar, param também as cidades. Vale aquela máxima que se ouve: se a colônia é forte, as cidades vão bem, obrigado. Cada cantinho colonial destas coxilhas tem sua peculiaridade, mas as dificuldades são as mesmas: crédito a juro extorsivo e escasso, insumos caros e preços agrícolas aviltantes. Problemas à parte, a Feira da Produção está esperando para ver, curtir, movimentar e se divertir. É tempo de aproveitar, porque todos passaram por poucas e nada boas bem conhecidas nos últimos meses.
FATO, em tempos de antanho já foi pior. Os imigrantes que o digam. Vieram atraídos por imagens e promessas do governo, de grandes extensões de terras para plantar. A realidade encontrada foi outra. A região da campanha estava ocupada por estancieiros portugueses e espanhóis. Sobrou então colonizar a parte acima do rio dos Sinos e Jacuí, onde se estabeleceram as primeiras famílias alemãs, em 1824. Foram alvo de saques e trotes. Contam que um barqueiro levou famílias pelo Jacuí acima, até a região de Agudo. Lá chegando, disse para caminharem por uma hora numa trilha, onde encontrariam o local para se fixarem. Nesse meio tempo descarregaria os seus pertences. Quando retornaram, o barqueiro tinha sumido, deixando-os apenas com os baús de roupas. Bens pessoais e ferramentas compradas com as poucas economias que trouxeram, foram saqueadas. Os descendentes de imigrantes têm muitas histórias que foram passadas através das gerações, em diários familiares, livros pastorais, sociedades de imigrantes, anotações escolares e informações populares.
EM 05 de março de 1882, chegava ao Rio de Janeiro, o imigrante alemão Adolph Ludwig Friedrich Werner, com 19 anos, a saber, meu bisavô, desembarcando do vapor Hannover 1, da Norddeutscher Lloyd. Até então morava em Saarbrücken e era filho de Carl Werner e Louise Pitz, tinha nove irmãos e foi o único da família a migrar para o Brasil. Ao contrário da maioria dos imigrantes, era um cidadão urbano, que veio para cá depois da unificação da Alemanha (1871), e não antes, como os imigrantes anteriores. Saarbrücken era um centro urbano regional, no estado de Saarland, Alemanha, perto da fronteira com a França. Adolph não ganhou lote de terra na chegada. Do Rio veio para Villa Theresa, onde se estabeleceu como padeiro e cervejeiro. Casou-se com Carolina Ziebell, também filha de imigrantes alemães, e tiveram 8 filhos: Roberto, Adolph Albert, Frederico, Ida, Carlos, Ernesto, Alvina e Anna Clara. A padaria e cervejaria localizava-se onde hoje está a Galeria Unicenter, a rua Nestor Frederico Henn.
AO final do século XIX, quando não haviam automóveis, foi construída uma ponte de madeira para travessia do rio Pardinho, no Bom Jesus, num ponto estreito e de pouca profundidade. No dia da inauguração, houve confraternização entre os trabalhadores e doadores da madeira. A cerveja foi fornecida pelo cervejeiro Adolph. Foi nomeado escrivão de Villa Theresa em 1918. Faleceu em 9 de março de 1929. Seu filho, Carlos Werner, o sucedeu, nomeado pelo presidente (assim era denominado o cargo de governador na época) do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas. O cargo foi exercido até sua aposentadoria em 1954, quando passou para Adolfo Werner, neto do imigrante, titular do Cartório de Vera Cruz até 1970 e também o primeiro vice-prefeito quando da emancipação de Vera Cruz. Ernesto Werner radicou-se em Ijuí onde criou sua própria cervejaria e fábrica de bebidas que manteve até os anos 60, proprietário também da famosa água mineral Fonte Ijuí. Frederico também foi a Ijuí e sua metalúrgica fabricava geladeiras, cofres e camas. Ambos foram distinguidos com nomes de ruas em Ijuí. Carlos e Adolfo Werner também foram honrados com nomes de ruas em Vera Cruz.
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