O gaúcho nativo ou aquele de alma e coração que desbravou outras querências tem orgulho da história escrita com o sangue dos heróis farrapos
“FOI o 20 de setembro, o precursor da liberdade”. A semana vai findando e junto as atividades nos acampamentos de rincões afora que enalteceram a epopeia farroupilha. Alguns preparativos se iniciaram até um mês antes. São cavalgadas, jornadas cívicas, encenações históricas, gastronomia campeira, fandangos, atividades artísticas e culturais realizadas nas sociedades e centros de tradições. A cada ano os acampamentos vêm se multiplicando pelos parques e campos, com réplicas de ranchos, galpões, bolichos e estâncias ornamentadas com apetrechos característicos do tradicionalismo. A Chama Crioula mantém acesa os ideais da Revolução Farroupilha sempre revividos em música, prosa e verso. O rio-grandense, o gaúcho nativo, ou mesmo aquele gaúcho de alma e coração que foi desbravar outras querências, tem orgulho dessa página da história escrita com o sangue dos heróis farrapos. Um movimento iniciado por estancieiros que se insurgiu contra o Império por causa dos altos tributos cobrados pelo charque, sem condições de competir com o produto que vinha do Uruguai e Argentina. Resultou numa guerra civil de 1835 a 1845, manchando de sangue as coxilhas da Província de São Pedro. O armistício assinado nos campos de Ponche Verde pôs fim à refrega, extinguiu a Republica Rio-Grandense, mas reconheceu a legitimidade da insatisfação dos produtores de charque. A calmaria voltou e o seu povo passou a ser considerado “aguerrido e bravo”, batalhador pelas causas justas como as revoluções de 1893, 1923, 1930 e a Legalidade em 1961, este último, um movimento que o saudoso governador Leonel de Moura Brizola levou no grito e venceu sem disparar um só tiro, como ele próprio afirmava.
BOM ou ruim, a História está aí para que cada um tire suas conclusões. Relembrar esses feitos heroicos faz parte da cultura popular a fim de preservar a sua memória. Este ano a motivação tem um objetivo ainda maior, eis que após a grande enchente de maio que inundou os pagos era necessário demonstrar que apesar da destruição e ritmo sonolento dos palácios e mansões de Brasília, permanece vivo o espírito, o legado do Rio Grande batalhador e que com a força do seu povo está superando as adversidades e reconstruindo o seu grande rincão. Foi assim com a recente Expointer. Uma área inundada, devastada, recuperada em poucas semanas graças ao mutirão entre o Piratini e os empresários ligados ao agro (e ainda há quem duvide da força do agro). Um público recorde de mais de 800 mil visitantes respondeu ao chamamento e o evento superou todas as expectativas do ponto de vista comercial e festivo. De certa forma, é o mesmo incentivo que a gauchada leva para a evocação farroupilha, mostrar que vamos em frente e vamos vencer. É um novo momento, não só para festejar, mas para valorizar e mostrar a capacidade de superação. Uma demonstração de conexão do gaúcho com suas raízes, que valoriza as lides rústicas e campeiras. A Semana Farroupilha quer sobretudo proporcionar um efeito moral no ânimo e na confiança da população. E que “sirvam as nossas façanhas, de modelo a toda Terra”.
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