A minha filha está aprendendo a ler e a escrever
A minha filha está aprendendo a ler e a escrever. Os fonemas ainda são literais, te amo ainda é ti amu, mas estamos trabalhando nisso.
Brincamos juntos de fazer palavras cruzadas e assim ela vai treinando a construção das sílabas. Um desenho de um quadrado amarelo com um telhado. “CAAAA… SA..”, ela pronuncia enquanto escreve. O desenho de um pisante de couro preto. “TE…NISSSS”, ela escreve deixando sobrar um quadradinho. Era sapato.
Incrível, soberbo, magistral. Com onze letras. Ela tem alguma dificuldade e lê apenas o que está escrito em caixa alta, mas se esforça e todas as manhãs, quando vamos até a escola, ela vai lendo as placas ao redor. “PAAAAA..RE”, diz olhando para uma placa. “ES… GO..TO”, lê no bueiro da rua. Não estou querendo dizer que ela é genial ou algo assim. Ela não é brilhante, tenho certeza. Demorou para conseguir pronunciar o erre, recorta papéis com a boca aberta, tem dificuldades matemáticas. Mas está aprendendo a ler e se isso não é maravilhoso, não sei o que é.
Nossos filhos estão sempre nos dizendo adeus. Quando aprendem a caminhar, estão nos dizendo o primeiro adeus. Depois, quando aprendem a falar. Depois, aprendem a comer sozinhos. Agora a ler. Depois, quando estudam sozinhos. Depois, quando escolhem uma profissão. Depois, quando arrumam emprego. Passam os anos nos dizendo pequenos “tchaus”, ganhando autonomia. Estaremos batendo palminhas em cada um desses momentos, felizes por eles. Mas estão nos dizendo adeus.
Formarão suas famílias. Sentiremos falta de suas limitações. Das vezes que nos pediam ajuda. Torceremos por uma ligação no domingo. Sentaremos no sofá, fazendo palavras cruzadas.