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Preço da carne segue em alta enquanto gasolina tem redução

Publicado em: 07 de janeiro de 2022 às 08:34 Atualizado em: 02 de março de 2024 às 22:22
  • Por
    Rafael Cunha
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Rafael Cunha/Grupo Arauto
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    Combustível reduz por conta da mudança no ICMS e, mesmo com o fim do embargo da China, carne seguiu em elevação em dezembro

    Os gaúchos que dependem da gasolina já devem ter sentido os efeitos da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. A alíquota do ICMS caiu de 30% para 25% na virada do ano. O tributo estava majorado desde 2016. Algumas distribuidoras, no entanto, confirmaram que levarão alguns dias para ajustar os estoques. O Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Estado do Rio Grande do Sul (Sulpetro) tem informado aos postos que o desconto será de 5%. Segundo o órgão que representa os postos, a redução deve levar aproximadamente 10 dias para que seja sentida na totalidade pelo consumidor final.

    Em compensação, um dos produtos que mais onera o custo da Cesta Básica tem tido reiterados aumentos nos últimos meses. De acordo com o último levantamento realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), divulgado na quarta-feira, dia 5, a carne bovina foi o produto que mais contribuiu com a alta no custo da cesta. O produto apresentou elevação de 2,73% em dezembro.

    Apesar das tentativas de controlar as altas, principalmente dos combustíveis, o professor da Unisc, doutor em economia Sílvio Cezar Arend explica que, normalmente, não tem o efeito esperado. “Controle de preços no sentido de intervenção e tabelamento não é alternativa eficiente de mercado. Embora possam parecer interessantes no curto prazo, no médio prazo provocam desabastecimento e desalinhamentos tanto de preços relativos quanto desestruturação de cadeias produtivas. No caso de alimentos, o Governo Federal deveria ter dado continuidade à política de estoques reguladores, só que a Conab abdicou desta atribuição. Em consequência, deixou de tentar equilibrar o mercado interno ao ofertar os estoques (que não foram recompostos nos últimos dois anos). Ou seja, o mercado de alimentos, o de cereais principalmente, foi deixado para o mercado”, comenta.

    Mudança de Hábito

    A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou em outubro do ano passado que o consumo de carne vermelha no Brasil é o menor dos últimos 26 anos devido ao aumento do preço. Naquela oportunidade, o produto acumulava inflação de cerca de 22% nos últimos 12 meses.

    As altas estão ligadas a dois principais fatores: a valorização do dólar frente ao real, assim os produtos brasileiros ficam mais atrativos no exterior, o que, consequentemente, faz reduzir a oferta no mercado nacional e eleva o preço; e o veto da China à importação da carne brasileira, o que pode vir a regular novamente o valor com a retomada das exportações. “O preço da carne tem subido nos últimos meses devido tanto à demanda externa quanto à desvalorização cambial. A elevação do preço no mercado externo e a desvalorização cambial implicam em maior receita em reais para os exportadores. Então, para igualar a rentabilidade do mercado interno com a do mercado externo, há um aumento de preço no mercado interno, senão é mais interessante exportar do que vender no país. Isso vale para todo e qualquer produto exportável. Além disso, para alguns produtos também há a pressão de custos quando utiliza insumos importados. É o caso dos adubos e agrotóxicos, por exemplo, o que também pressiona o preço interno a subir”, explica Arend.

    Outra questão que também se alterou nos últimos tempos foram os hábitos de consumo de proteínas pelos brasileiros. Em 2021, o ovo era consumido por 19,1% da população; o frango por 14,6%; as carnes bovinas de segunda por 14,1%; e as carnes nobres por apenas 7% da população. Os dados são da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

    Fretes

    Para que os combustíveis cheguem às bombas, há toda uma cadeia de transporte. Os transportadores, no entanto, sofreram anteriormente com a redução nos valores dos fretes, o que pode, de acordo com o professor Sílvio Arend, ser compensado agora. “A redução de preços pode impactar na redução do preço do frete, mas é preciso lembrar que as margens de operação e de lucro de caminhoneiros e transportadoras foram – em muito – reduzidas nos últimos anos e neste momento é de se esperar primeiro uma recomposição destas margens, para só então haver uma possível redução do preço do frete. Ao menos no curto prazo não se espera redução em cadeia para outros setores”, ressalta.

    Seguirão em Alta

    A animação pela queda no preço da gasolina, porém, deve durar pouco. Os combustíveis devem voltar a subir e o descongelamento do ICMS deve deixar de ser sentido. “Os combustíveis devem continuar subindo e logo esta redução da alíquota do ICMS deixará de ser sentida ao abastecer os veículos, pois o preço interno é regulado pelo comportamento do mercado externo e a taxa de câmbio. Enquanto o preço externo do barril de petróleo não baixar significativamente, não deverá mudar o preço interno. Considerando também que não há nenhuma mudança de política econômica ou ambiente interno no curto prazo, não se deve esperar valorização do real frente ao dólar. A combinação destes fatores indica que o preço dos combustíveis continuará subindo enquanto for essa a política de preços da Petrobrás”, frisa o economista.

    Em dezembro, cesta básica subiu 1,3%

    A variação do custo da cesta básica nacional em Santa Cruz do Sul foi de 1,345% entre 2 de dezembro de 2021 e 5 de janeiro de 2022. O valor passou de R$ 534,53 para R$ 541,71, uma elevação de R$ 7,19. Dos 13 produtos pesquisados, seis apresentaram redução e sete produtos apresentaram elevação de preço.

    As maiores contribuições para esta elevação do custo da cesta básica nacional foram da carne bovina, alta de 2,73%, e da banana, 1,48% mais cara, que no levantamento de dezembro já havia apresentado elevação de preço. Contribuíram para frear esta elevação o tomate, com redução de 1,88%, o feijão, com baixa de 0,55%, e a batata, 0,48% mais barata.

    Com esta elevação dos preços no início de janeiro, a cesta básica fecha o ano de 2021 com elevação de 7,68%. Em um período mais longo, desde março de 2020 em apenas três meses a cesta básica apresentou redução de preço, passando de R$ 390,82 para os atuais R$ 541,71, acumulando 38,61% de aumento.

    Com este custo, um trabalhador de Santa Cruz do Sul que recebeu no início deste mês o salário mínimo, precisa trabalhar 108,344 horas para adquirir o conjunto de 13 produtos. O número representa 1,44 hora a mais que o necessário no mês de novembro.

    O salário mínimo necessário para uma família com dois adultos e duas crianças, em Santa Cruz, para o mês de dezembro de 2021, é de R$ 4.516,84.