Há sempre uma Maria Emília por aí
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Há sempre uma Maria Emília por aí


Publicado 14/11/2017 07:57
Atualizado 14/11/2017 08:38

Até quem vive da escrita tem momentos que trava, pausa ou fica a refletir, ao invés de se colocar a escrever. No percurso Santa Cruz - Paraíso, no dia de matar a saudade da família, ia refletindo sobre os poucos dígitos que minhas mãos estão fazendo, além de matérias diárias. Eu queria um assunto, quando olhei para o lado e Maria Emília sorriu para mim.

Tão pequena e tão encantadora. Maria Emília é a senhora que compartilhou comigo alguns quilômetros na sexta-feira. Minhas amigas costumam brincar sobre a quantidade de amigas que faço no ônibus. Quando vi Maria, tive certeza: lá estava outra personagem das minhas crônicas.

O assunto que eu buscava estava ali do meu lado, com cabelos escuros, óculos miúdos e um intenso brilho não apenas no olhar, como por todo o corpo. Tem gente que só de ver já dá vontade de abraçar. De confiar e de acreditar que, em vários bancos de ônibus pelo mundo, há uma Maria Emília com vontade de conversar.

Depois do primeiro assunto, os outros se desenrolaram automaticamente. Juntas, ficamos com medo das manobras perigosas do motorista. Rimos da quantidade de vezes que a buzina era acionada e comentamos sobre nosso amor por cachorros. Descobrimos ainda, depois de meia hora do ocorrido, que nós duas pensamos a mesma coisa quando o ônibus passou perto de mais de um menino de bicicleta. E eu pensava que apenas eu era assustada com situações. Maria Emília se aconchegou em meu coração. 

No final, em um ritual invertido, perguntamos o nome uma da outra e nos adicionamos no facebook, relembrando que estamos em 2017 e já é possível manter contato com quem encontramos, por acaso, em uma linha de ônibus, entre municípios.

E eu que estava lá, a pensar sobre o que escrever, relembrei que sempre há uma boa história para ser contada. Basta estarmos abertos para enxergar: Há sempre uma Maria Emília por aí.

 

PS: se por acaso ler este texto, saiba que descobri que além do mesmo ônibus, compartilhamos outra coisa: o dia do aniversário.


Há sempre uma Maria Emília por aí








Luiza Adorna Jornalista, sonhadora e escritora. Apaixonada pelas letras e pelo jornalismo desde criança. Gosta de observar a vida e registrar o que enxerga pelas ruas. Gosta de contar a história das pessoas. Gosta de narrar a existência humana. Notas de Rua é um blog sobre a vida, sobre o cotidiano e sobre aquilo que não deve passar despercebido.